Nos países da Europa Oriental, controlados no passado pela Rússia e onde, desde então, impera um profundo sentimento anti-Moscou, as informações falsas e os rumores circulam à vontade de forma surpreendente, enquanto a crise regional se agrava.
Na Eslováquia, país vizinho à Ucrânia, a desinformação sobre a situação está muito difundida, inclusive por parte dos próprios deputados do país.
Após o discurso do presidente russo, Vladimir Putin, no qual questionou a própria existência da Ucrânia, Lubos Blaha, membro do partido de oposição de esquerda Smer, e seguido por 170.000 pessoas no Facebook, disse estar "convencido de que [Putin] quer a paz".
Em seu site, o político afirma que a Ucrânia "provocou e ameaçou a Rússia", enquanto o "Ocidente a assediava". Além disso, afirmou que a Ucrânia era "controlada por clãs oligárquicos", onde "o neonazismo e a russofobia estão em alta e a corrupção em pleno apogeu".
- Sentimento anti-Otan -
A Eslováquia parece ser especialmente suscetível à desinformação pró-Kremlin.
O país de apenas 5,5 milhões de habitantes, que compartilha uma fronteira de 97 quilômetros com a Ucrânia, firmou neste mês um acordo de defesa com os Estados Unidos que permite que as tropas americanas possam operar em seu território.
O acordo, no entanto, foi muito contestado pela oposição e parte importante da população, o que o transforma o país em um dos principais alvos de desinformação e propaganda.
Por conseguinte, o sentimento anti-EUA, anti-Otan e anti-União Europeia estão em alta na Eslováquia.
Segundo uma pesquisa realizada no mês passado pela agência Slovak Focus, 44% dos entrevistados responsabilizam os Estados Unidos e a Otan pelo aumento das tensões entre Rússia e Ucrânia, enquanto apenas 35% culpam Moscou.
"Já em janeiro, houve um aumento maciço de desinformação destinada a justificar a agressão russa contra Ucrânia", afirma Bohumil Kartous, porta-voz dos chamados 'Elfos Tchecos', uma rede de centenas de pessoas que monitoram a desinformação na internet.
"Este tema supera, e muito, todos os demais, inclusive a covid", destaca Kartous, cujo grupo publica relatórios mensais sobre desinformação compartilhada na República Tcheca e região.
Essa desinformação tem como objetivo apresentar a Ucrânia como um "Estado fracassado e corrupto", governado por "fascistas" e que comete "genocídio contra a parte russófona de sua população", diz um dos relatórios dos 'Elfos Tchecos' sobre o conflito.
- 'Sensação de insegurança' -
Nas semanas prévias à decisão de Putin de permitir a entrada das tropas russas no leste da Ucrânia, circularam pela internet vários vídeos que pretendiam mostrar os preparativos das tropas ucranianas para entrar na Rússia.
A AFP Fact Check descobriu que muitos desses vídeos mostravam exercícios militares não relacionados com a situação atual e que foram gravados há alguns anos.
Algumas das imagens remontam a 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia. Além disso, um dos vídeos, de 2018, se fazia passar por uma reportagem da emissora britânica BBC.
Algumas das falsificações "apresentam a Otan como responsável pela situação atual, quando se supõe que a Rússia está simplesmente resistindo aos esforços que ameaçam a sua segurança há tempos", disse Kartous. "Isso tem aceitação em uma parte da população", garante, ao se referir à República Tcheca.
O governo tcheco, por sua vez, tem contribuído com o envio de armas e munições à Ucrânia.
Por outro lado, nas regiões tradicionalmente mais próximas das posições pró-Rússia, a retórica de Moscou tem raízes profundas.
O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, declarou nesta semana que 85% dos sérvios "sempre estarão ao lado da Rússia, aconteça o que acontecer".
Os tabloides do país dos Bálcãs publicaram esta semana um relato não verificado de que as forças russas destruíram dois veículos blindados ucranianos que tinham entrado na Rússia.
"A Ucrânia atacou a Rússia!", asseguravam os tabloides sérvios na terça-feira, horas depois de Vladimir Putin anunciar que reconheceria as duas regiões separatistas da Ucrânia e ordenaria o envio de tropas às mesmas.
* AFP