O presidente Jair Bolsonaro destacou, nesta quinta-feira (17), os valores religiosos e nacionalistas que compartilha com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, com quem se encontrou em Budapeste.
Bolsonaro se referiu à Hungria como "pequeno grande irmão" em declarações à imprensa após a reunião, na segunda etapa de uma turnê europeia que o levou à Rússia de Vladimir Putin na quarta-feira.
"Pequeno, se levarmos em conta as diferenças em nossas respectivas extensões territoriais. E grande, pelos valores que nós representamos, que podem ser resumidos em quatro palavras: Deus, pátria, família e liberdade", disse.
A defesa de visões sobre a família tradicional pode ter um impacto especial na Hungria, criticada pela União Europeia (UE) pela promulgação de leis que vetam a "promoção de uma identidade de gênero diferente do nascimento, mudança de sexo e homossexualidade" para os menores 18 anos de idade.
Esta é a primeira vez que um chefe de Estado do Brasil, a maior potência latino-americana com 212 milhões de habitantes, visita a Hungria, país com 9,8 milhões de habitantes. Antes do encontro, Bolsonaro se reuniu com o presidente húngaro, Janos Ader.
O Brasil é o principal parceiro comercial da Hungria na América Latina e Orban foi um dos poucos líderes ocidentais a comparecer à posse de Bolsonaro em janeiro de 2019.
Orban disse que a visita de Bolsonaro foi uma "grande honra" e agradeceu por seus esforços "muito valiosos" para falar sobre a crise na Ucrânia durante sua visita a Moscou.
"Discutimos a possibilidade ou não de uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Por coincidência, quando estávamos em voo (para Moscou) e parte das tropas russas estavam sendo desmobilizadas na fronteira", disse Bolsonaro, segundo declarações divulgadas pela imprensa brasileira.
"Seja coincidência ou não, a guerra não interessa a ninguém", acrescentou. As informações russas sobre essa suposta desmobilização foram questionadas pelos líderes da Ucrânia e da OTAN.
Durante a visita de Bolsonaro à Hungria, foram assinados três contratos de cooperação, principalmente na área de defesa.
Em 2020, a Hungria já havia assinado um acordo para a compra de duas aeronaves brasileiras de transporte militar KC-390, por um preço não divulgado.
A visita de Bolsonaro a Budapeste atraiu críticas, com um portal de notícias húngaro descrevendo-a como "uma manobra diplomática" antes das eleições parlamentares no país UE em abril.
Desde que voltou ao poder em 2010, Orban tem feito um esforço para tecer laços além das fronteiras da União Europeia, onde o presidente é frequentemente acusado de realizar políticas que violam a democracia, operando um processo de "abertura para o leste", olhando para China e Rússia.
Orban também era um aliado próximo do ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que lhe deu "total apoio" nas eleições parlamentares que a Hungria realizará em 3 de abril.
Bolsonaro, que era um fervoroso admirador de Trump, se distanciou dos Estados Unidos desde que Joe Biden chegou à Casa Branca. O presidente brasileiro até ignorou a pressão de Washington para cancelar sua viagem à Rússia por causa das tensões na Ucrânia, dizendo que o fez em nome da "soberania" do Brasil.
Bolsonaro, criticado internacionalmente por sua política de desmantelamento de organizações de proteção ambiental e suas declarações homofóbicas, também enfrenta um momento político ruim poucos meses antes das eleições presidenciais de outubro, em que tudo indica que buscará a reeleição.
* AFP