Equipes de resgate continuaram neste domingo(23) suas buscas nos escombros de uma prisão iemenita, alvo de um ataque que deixou pelo menos 70 mortos e que grupos humanitários atribuíram a uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita.
O centro de detenção é administrado pelos rebeldes houthis e localizado na cidade de Saada, no norte do país, reduto dos insurgentes.
A coalizão militar liderada por Riade, da qual os Emirados Árabes Unidos também fazem parte, intervém no Iêmen desde 2015 em apoio ao governo contra o avanço dos rebeldes houthis, que controlam a maior parte do norte do país e da capital, Saná.
Tanto os houthis quanto várias ONGs acusaram a coalizão de bombardear a prisão.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também pareceu confirmar a responsabilidade da aliança, quando na sexta-feira denunciou "o bombardeio da coalizão liderada pela Arábia Saudita a uma prisão em Saada".
No entanto, a coalizão, que controla o espaço aéreo iemenita, negou no sábado qualquer responsabilidade pelo ataque e acusou os houthis de "desinformar" a sociedade.
- Ataque "indiscutível" -
"Este é o mais recente de uma longa série de bombardeios aéreos injustificáveis da coalizão liderada pela Arábia Saudita contra escolas, hospitais, mercados, festas de casamento e prisões", disse Ahmed Mahat, chefe da missão da Médicos Sem Fronteiras no Iêmen.
Segundo a ONG, o atentado matou pelo menos 70 pessoas e feriu 138. Um hospital perto da prisão não tinha leitos suficientes para atender as vítimas e havia "feridos caídos no chão", disse um dos seus membros.
Já os houthis afirmaram que o ataque deixou 82 mortos e 266 feridos, balanço que não pôde ser verificado com nenhuma fonte independente.
Na quinta-feira, a coalizão reconheceu ter realizado um bombardeio na cidade portuária de Hodeida (oeste), controlada pelos houthis.
Pelo menos três crianças foram mortas no ataque, segundo a ONG Save the Children. Desde então, a conexão com a internet foi cortada em todo o país.
Os bombardeios ocorreram depois que os houthis atacaram várias instalações em Abu Dabi, matando três pessoas, em 17 de janeiro. O governo dos Emirados prometeu que responderia.
Nesse contexto, a Liga Árabe realizou uma reunião extraordinária neste domingo e pediu à comunidade internacional que "designe os rebeldes houthis iemenitas como uma organização terrorista" após seus ataques contra os Emirados.
Em mais de sete anos de conflito, todas as partes envolvidas foram acusadas de "crimes de guerra" por especialistas da ONU.
A coalizão reconheceu ter cometido "erros", mas muitas vezes acusa os insurgentes de usar civis como escudos humanos.
Segundo as Nações Unidas, o conflito já causou 377 mil mortos e deixou uma população de 30 milhões de pessoas à beira da fome.
* AFP