A Assembleia Nacional da África do Sul, onde os deputados se reúnem na Cidade do Cabo, foi completamente destruída neste domingo (2) por um incêndio declarado pela manhã, enquanto a polícia anunciou que um suspeito será apresentado à justiça na terça-feira.
"A Câmara dos Deputados foi totalmente destruída pelas chamas", disse à AFP o porta-voz do Parlamento, Moloto Mothapo, explicando que "o fogo ainda não foi controlado".
Nenhuma vítima foi reportada e embora se desconheçam as causas das chamas, o fogo provocou graves danos materiais.
"Um homem foi detido dentro do Parlamento e ainda está sendo interrogado. Abrimos uma investigação criminal (...) e ele comparecerá na terça-feira perante a justiça", afirmou Thandi Mbambo, porta-voz dos Hawks, unidade de elite da polícia sul-africana.
"Parece que o sistema de extinção automático não funcionou como deveria", declarou à imprensa o presidente Cyril Ramaphosa no local. "o trabalho do Parlamento vai continuar", insistiu o chefe de Estado sul-africano.
As chamas foram detectadas às 05h locais (00h de Brasília) na ala mais antiga do edifício, onde estão as salas revestidas com madeira nobre e onde antes ficavam os assentos dos deputados.
O incêndio também fez desmoronar parte do telhado do Parlamento, que acabou de ser construído em 1884.
"O telhado do antigo prédio que abrigava a Assembleia Nacional desabou, nada restou dele", disse mais cedo a repórteres Jean-Pierre Smith, chefe dos serviços de segurança e emergência da cidade.
"O conjunto sofreu grandes estragos com a fumaça e a água" utilizada no combate às chamas, acrescentou.
A construção histórica abriga uma valiosa coleção de livros e a cópia original do primeiro hino nacional, em Afrikaans, "Die Stem Suid-Afrika" (A Voz da África do SUl), entoado durante o apartheid.
As chamas também devoraram as partes mais novas do prédio, atualmente em serviço. Imagens exibidas pela TV local mostraram enormes chamas escapando do telhado do imponente edifício de fachada vermelha e branca.
As ruas do bairro residencial onde fica o Parlamento foram bloqueadas rapidamente.
O cordão de segurança se estende às flores ainda expostas no átrio da catedral vizinha de Saint-Georges, onde na véspera foram celebrados os funerais de Desmond Tutu, último herói da luta anti-apartheid, morto em 26 de dezembro. Na mesma manhã, suas cinzas foram enterradas na igreja, durante uma cerimônia privada.
- "Uma tragédia -
Cerca de 70 bombeiros foram mobilizados contra o incêndio.
Uma espessa coluna de fumaça era visível a vários quilômetros de distância, constataram jornalistas da AFP.
Os moradores da Cidade do Cabo, surpreendidos pelo incêndio ao acordar, compartilhavam fotos pelas redes sociais.
"É chocante ver nossa Assembleia Nacional assim", tuitou Brett Herron, representante da província de Cabo Ocidental no Parlamento, enquanto o ex-parlamentar Mmusi Maimane lamentou o que chamou de "uma tragédia".
Uma primeira equipe com 30 bombeiros chegou cedo ao local e tentou por várias horas acalmar o fogo, mas teve que recuar diante de sua intensidade e pedir reforços.
Equipes dos bombeiros temiam que as chamas se espalhassem rapidamente para as antigas salas do Parlamento, adornadas com espessas tapeçaria e cortinas.
- Edifício histórico -
Neste enorme edifício vitoriano, de tijolos vermelhos e fachada branca, o último presidente da época do apartheid, FW de Klerk, tinha anunciado em fevereiro de 1990 o fim do regime racista.
A Cidade do Cabo já tinha sofrido um grande incêndio em abril, na montanha Table, que destruiu os tesouros da biblioteca da prestigiada Universidade da Cidade do Cabo.
A Cidade do Cabo é, desde 1910, a sede do Parlamento, composto pela Assembleia Nacional e uma câmara alta chamada Conselho Nacional das Províncias, enquanto o governo tem sua sede em Pretória.
* AFP