Os rebeldes huthis do Iêmen anunciaram nesta terça-feira (28) que permitirão a retomada temporária dos voos humanitários para o aeroporto da capital, Sanaa, uma semana depois da suspensão em consequência dos ataques aéreos da coalizão liderada pela Arábia Saudita.
A ajuda humanitária é essencial para o Iêmen, país pobre da península arábica que sofre desde 2014 com um devastador conflito civil entre o governo, apoiado por uma coalizão internacional liderada pela Arábia Saudita, e os huthis, apoiados pelo Irã.
"A autoridade de aviação civil anuncia a retomada dos voos da ONU de maneira temporária", informou o canal de televisão Al Masirah, controlado pelos rebeldes.
A administração huthi "informou as Nações Unidas e todas as organizações internacionais que o aeroporto de Sanaa está preparado para receber voos", acrescentou a emissora.
Os voos para a capital, controlada pelos rebeldes, estão suspensos desde agosto de 2016 por um bloqueio da Arábia Saudita, mas com algumas exceções para voos humanitários cruciais para a sobrevivência da população.
Os huthis afirmaram que os voos da ONU para Sanaa foram interrompidos pelos bombardeios sauditas da semana passada, mas a coalizão que apoia o governo informou que o aeroporto já estava fechado dois dias antes.
O conflito no Iêmen ficou mais violento nos últimos dias, depois que duas pessoas morreram e sete ficaram feridas em território saudita em um ataque reivindicado pelos huthis.
De maneira imediata, Riad iniciou no sábado uma operação militar em "larga escala" no Iêmen, que deixou três mortos e seis feridos.
O enviado especial da ONU para o Iêmen, Hans Grundberg, afirmou que os confrontos "minam as perspectivas de alcançar um acordo político duradouro para terminar com o conflito" no país.
"Qualquer ataque contra civis e alvos civis, assim como ataques indiscriminados, da parte de qualquer ator, são uma violação flagrante do direito humanitário internacional e devem parar de maneira imediata", destacou Grundberg em um comunicado.
- Ajuda crucial -
No domingo, o porta-voz da coalizão, Turki al Maliki, acusou os rebeldes de "militarizar" o aeroporto e utilizar o local como "um centro para o lançamento de mísseis balísticos e drones" contra o reino saudita.
A coalizão também acusou o Hezbollah libanês de ajudar os huthis a atacar a Arábia Saudita a partir do aeroporto, o que o movimento xiita negou na segunda-feira.
Os huthis afirmaram nesta terça-feira que a coalizão impede a entrada de "dispositivos de comunicação e navegação (...) no aeroporto para substituir os antigos".
"As Nações Unidas e outras organizações internacionais foram informadas de que a operabilidade a longo prazo desses dispositivos não está garantida devido à idade deles".
Nos últimos meses, os huthis intensificaram os ataques com drones com bomas e mísseis balísticos contra o reino vizinho.
Em outubro, um ataque deixou 10 feridos no aeroporto de Jazan, sul da Arábia Saudita, poucos dias depois de outra ação contra o aeroporto de Abha, que fica 200 km ao norte de Jazan, segundo a imprensa estatal.
A ONU e o governo dos Estados Unidos pressionam para acabar com a guerra no Iêmen, mas os huthis exigem o fim do bloqueio do aeroporto de Sanaa como condição prévia para um cessar-fogo ou negociações.
De acordo com a ONU, 377.000 pessoas morreram pelas consequências diretas e indiretas do conflito, que incluem a falta de água potável, a fome e as doenças.
* AFP