A ONU afirmou nesta quarta-feira (22) que se vê "obrigada" a reduzir a ajuda alimentar ao Iêmen por falta de recursos, ao mesmo tempo que advertiu para o aumento da fome neste país em guerra e arrasado por uma das piores crises humanitárias do mundo.
O país, o mais pobre da península arábica, está devastado por um conflito que já completou sete anos entre o governo apoiado pela Arábia Saudita e os rebeldes huthis, apoiados pelo Irã.
"O Programa Mundial de Alimentos (PMA) está obrigado a reduzir a ajuda humanitária para o Iêmen", anunciou a agência da ONU, que fez um alerta sobre as consequências da medida, no momento em que a fome aumenta no país.
O PMA não tem os fundos necessários para entregar ajuda a 13 milhões de pessoas no Iêmen, explicou a agência, antes de destacar que "a partir de janeiro oito milhões de pessoas receberão uma ração alimentar reduzida e cinco milhões que correm o risco de fome continuarão recebendo uma ração completa".
Quase 80% dos 30 milhões de habitantes do Iêmen dependem da ajuda internacional.
- Risco de desnutrição infantil -
O programa de alimentos da ONU explicou que com os cortes "as famílias receberão apenas metade da ração mínima diária" e expressou o temor de que "em breve reduções ainda mais severas sejam inevitáveis".
"Algumas pessoas poderiam ser totalmente excluídas dos programas de ajuda alimentar", lamentou.
A agência da ONU calcula que mais da metade da população do Iêmen enfrenta uma situação aguda de fome e metade das crianças com menos de cinco anos (2,3 milhões) correm o risco de sofrer desnutrição.
O PAM indicou que precisa de 813 milhões de dólares "para continuar ajudando até maio os mais vulneráveis no Iêmen".
Em 2022 a agência precisará de 1,97 bilhão de dólares para continuar concedendo "uma ajuda alimentar que é vital para as famílias à beira da miséria".
Em março, ONU, Suécia e Suíça organizaram uma conferência de doadores com a participação de quase 100 países, mas conseguiram arrecadar apenas metade dos recursos esperados.
- "Reservas perigosamente baixas" -
Corinne Fleischer, diretora regional do PAM para Oriente Médio e Norte da África, afirmou que esta é uma "medida desesperada provocada por uma situação desesperada" que obrigará a agência a priorizar as "pessoas que estão em condição mais crítica".
"As reservas alimentares do PAM no Iêmen estão em um nível perigosamente baixo", explicou em um comunicado, no qual alerta para a necessidade de doadores para evitar uma "catástrofe alimentar iminente".
A advertência da agência da ONU acontece após o anúncio do fechamento do aeroporto de Sanaa, a capital do país que está nas mãos dos rebeldes. A situação afeta os voos humanitários, que eram os únicos autorizados.
O fechamento foi provocado pelos ataques aéreos da Arábia Saudita, que informou que estes foram uma resposta às operações com drones executadas a partir do aeroporto.
Desde a tomada de Sanaa em 2014, os huthis controlam a maior parte do país, apesar de um ano depois uma coalizão militar liderada por Riad ter sido organizada para apoiar o governo.
De acordo com a ONU, a guerra provocou a morte de 377.000 pessoas, sendo 227.000 por consequências indiretas do conflito, em particular a fome, as doenças e a falta de água potável.
* AFP