Mesmo que o prêmio Nobel da Paz de 2021 tenha sido concedido a dois jornalistas, a liberdade de imprensa continua ameaçada por uma "espada de Dâmocles", afirmou nesta quinta-feira (9) uma das ganhadoras do prêmio, a filipina María Ressa.
María Ressa, cofundadora do site de notícias Rappler, e o russo Dmitry Muratov, redator-chefe do jornal independente Novaya Gazeta, receberão nesta sexta-feira (10) o prêmio Nobel da Paz em Oslo, a capital da Noruega, por sua luta "em favor da liberdade de imprensa".
"Por ora, a liberdade de imprensa está ameaçada", declarou Ressa, após ser questionada se o prêmio mudaria a situação em seu país, as Filipinas, que ocupa o 138º lugar na lista de liberdade de imprensa elaborada pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Ressa citou o caso de seu compatriota Jess Malabanan, correspondente do jornal Manila Standard, assassinado na última quarta-feira com um disparo na cabeça. Malabanan também foi colaborador da agência Reuters e trabalhava no tema da guerra às drogas nas Filipinas.
"É como se tivéssemos uma espada de Dâmocles pairando sobre nossas cabeças", disse Ressa. "Atualmente, nas Filipinas, as leis existem, [...] mas você informa sobre temas difíceis por sua própria conta e risco", acrescentou.
Ressa, de 58 anos, é responsável pelo site Rappler, um veículo bastante crítico do presidente filipino, Rodrigo Duterte.
À espera de uma resolução para os sete processos judiciais que tem pendentes em seu país, Ressa pôde viajar à Noruega para receber o prêmio por gozar de liberdade condicional, após ser condenada por difamação no ano passado.
Dmitry Muratov, por sua vez, coincidiu com as declarações de Ressa.
"Se tivermos que nos transformar em agentes estrangeiros pelo prêmio Nobel da Paz, vamos fazê-lo", ironizou o jornalista de 60 anos, ao se referir à qualificação que os meios críticos ao Kremlin costumam receber na Rússia.
Ser considerado um "agente estrangeiro" obriga os grupos de informação a exibir esse status em todas as suas publicações.
O jornal Novaya Gazeta é um dos poucos meios independentes do universo midiático na Rússia, e é especialmente conhecido por suas investigações sobre corrupção e as violações de direitos humanos na Chechênia.
* AFP