Atribuir o status de "agente estrangeiro" ao jornal Novaya Gazeta, um dos poucos meios de comunicação independentes que restam no cenário midiático da Rússia, seria "estúpido", declarou nesta sexta-feira (10) o diretor de redação da publicação e Prêmio Nobel da Paz de 2021, Dimitri Muratov.
"Acredito que durante os 30 anos de vida de nosso jornal, fizemos tantas coisas positivas e boas pelo país que nos declarar como 'agentes estrangeiros' seria uma deterioração para o poder do país", disse Muratov à AFP pouco antes de receber o prêmio.
Anunciado como vencedor do Nobel da Paz ao lado da jornalista filipina Maria Ressa por seu combate "a favor da liberdade de imprensa", este russo de 60 anos disse que seu jornal resgatou pessoas da prisão na Chechênia, plantou árvores para as necessidades de impressão e cobriu o tratamento das pessoas assumindo os custos.
"Portanto, chamar nosso jornal de 'agente estrangeiro' seria estúpido", declarou.
O rótulo de "agente estrangeiro", que pretende desacreditar os meios de comunicação que recebem "financiamento do exterior" e estão envolvidos em qualquer tipo de "atividade política", é uma atribuição do ministério russo da Justiça e obriga os grupos de comunicação a informar o status em todas as suas publicações.
O presidente russo, Vladimir Putin, advertiu que o prêmio Nobel não era um "escudo" contra o status. A Rússia aparece na 150ª posição na lista de liberdade de imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
O Novaia Gazeta é conhecido especialmente pelas investigações sobre corrupção e violações dos direitos humanos na Chechênia. Desde a década de 1990, seis colaboradores da publicação foram assassinados, incluindo a renomada jornalista Anna Politkovskaya em 2006.
"Sempre servimos ao nosso público, não ao Estado", disse Muratov.
* AFP