As forças rebeldes da região etíope em guerra de Tigré rejeitam os apelos internacionais para se retirarem das regiões vizinhas - anunciou seu porta-voz nesta sexta-feira (6), um dia depois de assumir a conhecida cidade de Lalibela.
"Nada nesse sentido acontecerá, a menos que o bloqueio seja levantado", disse Getachew Reda, referindo-se ao acesso humanitário à sua região.
Os rebeldes "não vão se retirar de Afar e de Amhara", as duas regiões limítrofes com Tigré, acrescentou.
Na quinta-feira, as forças da Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF) tomaram a cidade amhara de Lalibela, um lugar conhecido por suas igrejas talhadas na rocha e classificado como patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Segundo moradores ouvidos pela AFP, a cidade, abandonada pelas forças de segurança locais, caiu sem oferecer resistência.
Os Estados Unidos pediram aos rebeldes para "protegerem este patrimônio cultural", destacando que Lalibela é "um legado da civilização etíope".
"Sabemos o que significa proteger o patrimônio histórico", respondeu Getachew. "Lalibela é o nosso patrimônio também. Não deveriam se preocupar se nossas forças protegem ou não Lalibela", afirmou.
Nesta sexta, Getachew afirmou também que o objetivo da tomada da cidade era proteger as estradas no norte de Amhara e impedir a concentração de tropas pró-governo.
"Estamos sitiados. Estamos bloqueados", justificou.
O governo de Amhara protestou contra a "profunda" incursão dos rebeldes, sugerindo que pode haver represálias.
Getachew insistiu em que a TPLF não pretende manter o controle de Amhara e Afar, mas facilitar o acesso ao Tigré e recuperar o sul e oeste da região, ocupados pelos Amhara.
- Mais de 400 mil pessoas com fome
A situação em Tigré, região visitada esta semana pelo diretor de operações humanitárias das Nações Unidas, Martin Griffiths, é preocupante. De acordo com a ONU, os combates levaram 400.000 pessoas à fome.
A TPLF acusa o governo de bloquear a entrega de ajuda, enquanto as autoridades humanitárias criticam, entre outras coisas, os obstáculos burocráticos que impedem sua entrega.
O governo afirma, por sua vez, que o cessar-fogo tinha como objetivo facilitar esse acesso, mas que as ofensivas da TPLF arruinaram esta iniciativa.
Nesta sexta-feira, o escritório do primeiro-ministro anunciou que mais 63 caminhões de ajuda humanitária chegaram a Mekele, a capital do Tigré, o que leva o total para 220 nas últimas semanas.
A região de Tigré está em guerra desde novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou suas tropas para derrubar a TPLF, partido regional, durante um longo tempo, controlou a política nacional.
Vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2019, o chefe do governo justificou sua intervenção pela necessidade de responder aos ataques desta organização contra o Exército federal.
Em junho, os rebeldes lançaram uma contraofensiva, retomando a capital regional, Mekele, e repelindo as tropas do governo.
Agora, controlam a maioria de Tigré e até mesmo algumas posições nas regiões de Afar, ao leste, e de Amhara, ao sul. Os rebeldes garantem que querem, com isso, facilitar o acesso de ajuda humanitária ao seu território. Essas incursões geraram críticas no exterior.
As Nações Unidas lançaram um apelo aos beligerantes para que ponham fim às hostilidades, e os Estados Unidos pediram a retirada dos rebeldes das regiões vizinhas.
* AFP