A Etiópia alertou nesta sexta-feira (6) que poderá lançar mão de sua "capacidade plena de defesa", após o avanço das forças rebeldes do Tigré nas regiões vizinhas, apesar dos chamados para que os mesmos se retirem desses territórios.
O governo "se vê pressionado para mobilizar e implantar toda a capacidade de defesa do Estado se as propostas humanitárias para uma resolução pacífica do conflito continuarem sem ser aceitadas", disse o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado. "A ação de um grupo irresponsável está testando a paciência do governo federal e colocando-o em uma postura defensiva, tomada em prol de um cessar-fogo humanitário unilateral", acrescentou.
Tropas de várias regiões se dirigiram ao Tigré nas últimas semanas para apoiar o Exército federal. Um veículo de mídia local citou uma fonte de segurança do governo de Amhara, vizinha ao Tigré, a qual indicou que uma ofensiva "para destruir o inimigo" pode ter início neste sábado.
As forças rebeldes do Tigré descartaram o pedido dos Estados Unidos para que se retirem das regiões vizinhas, informou hoje seu porta-voz, Getachew Reda.
A região de Tigré está em guerra desde novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou suas tropas para derrubar a Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF), partido regional que, durante longo tempo, controlou a política nacional. Vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2019, o chefe de governo justificou sua intervenção pela necessidade de responder aos ataques desta organização contra o Exército federal.
Em junho, os rebeldes lançaram uma contraofensiva, retomando a capital regional, Mekele, e repelindo as tropas do governo. Agora, controlam a maioria de Tigré e até mesmo algumas posições nas regiões de Afar, ao leste, e de Amhara, ao sul. Os rebeldes garantem que querem, com isso, facilitar o acesso de ajuda humanitária ao seu território. Essas incursões geraram críticas no exterior.
Getachew Reda declarou hoje que a conquista de Lalibela, em Amhara, tem como finalidade controlar as estradas do norte da região e evitar que as tropas pró-governo se concentrem naquele local. "Estamos sob assédio, sob bloqueio", afirmou. Ele reiterou que o objetivo da TPLF não é manter os territórios de Amhara e Afar, e sim facilitar o acesso ao Tigré e retomar o sul e oeste da região, ocupados por Amhara.
- Mais de 400 mil com fome
A situação no Tigré, região visitada esta semana pelo diretor de operações humanitárias das Nações Unidas, Martin Griffiths, é preocupante. De acordo com a ONU, os combates levaram 400.000 pessoas à fome.
A TPLF acusa o governo de bloquear a entrega de ajuda, enquanto as autoridades humanitárias criticam, entre outras coisas, os obstáculos burocráticos que impedem sua entrega.
O governo afirma, por sua vez, que o cessar-fogo tinha como objetivo facilitar esse acesso, mas que as ofensivas da TPLF arruinaram esta iniciativa.
Nesta sexta-feira, o escritório do primeiro-ministro anunciou que mais 63 caminhões de ajuda humanitária chegaram a Mekele, a capital do Tigré, o que leva o total para 220 nas últimas semanas.
Martin Griffiths disse hoje que 100 caminhões de ajuda deveriam ser entregues ao Tigré desde Genebra por dia. Também se espera que a necessidade crítica de ajuda alimentar no Tigré persista em 2022, devido à previsível falta de colheitas este ano.
Os Estados Unidos, após pedirem que os rebeldes retirem suas forças dessas regiões, também lhes reclamou que protejam Lalibela, "um testamento da civilização etíope".
"Sabemos o que significa proteger o patrimônio histórico", respondeu Getachew Reda. "Lalibela também é nosso patrimônio. Não têm que se preocupar se nossas forças irão proteger a cidade."
* AFP