As autoridades dissidentes da região etíope do Tigré garantiram que vão intensificar sua luta até expulsar todos os "inimigos" da região, o que implica que pretendem ignorar o cessar-fogo unilateral decretado pelo governo federal.
Na véspera, as forças rebeldes de Tigré recuperaram a capital desta região do norte da Etiópia, Mekele. Diante disso, o governo central retirou seus representantes e decretou o fim das hostilidades, enquanto os habitantes dessa cidade celebravam a vitória nas ruas.
A capital regional havia sido tomada pelo exército etíope em 28 de novembro de 2020, três semanas depois da ofensiva anunciada pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed para derrubar as autoridades locais da Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF), que dominou durante anos a vida política da Etiópia.
A princípio, a operação seria breve. Ela foi ordenada depois que forças pró-TPLF atacaram bases militares, alega Abiy Ahmed, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2019 pela reconciliação com a Eritreia, país na fronteira com Tigré.
Os combates continuam, porém, entre as forças leais à TPLF - as chamadas Forças de Defesa de Tigré (TDF) - e o Exército federal, que conta com o apoio das tropas da região vizinha de Amhara, assim como da Eritreia.
Durante meses, as tropas rebeldes não tomaram o controle de nenhum enclave importante, mas afirmavam estar reagrupando suas tropas em áreas rurais.
Na semana passada, coincidindo com a realização de eleições nacionais antecipadas, executaram uma ofensiva que levou à recuperação de Mekele.
"O governo e o Exército do Tigré cumprirão todas as tarefas necessárias para garantir a sobrevivência e a segurança do novo povo", declarou o antigo governo de Tigré em um comunicado divulgado na madrugada de terça-feira.
"O governo de Tigré convoca nosso povo e nosso Exército para intensificarem sua luta até que nossos inimigos abandonem completamente Tigré", acrescentou.
O país ainda aguarda o resultado oficial das eleições antecipadas, embora se espere uma vitória do Partido da Prosperidade do primeiro-ministro, que assumiu o cargo em 2018.
Na segunda-feira, o governo justificou o cessar-fogo "unilateral e incondicional" para permitir o bom desenvolvimento dos cultivos e a distribuição de ajuda humanitária.
Os oito meses de conflito em Tigré foram marcados por massacres, estupros e deslocamentos forçados da população, que geraram indignação internacional.
Segundo a ONU, pelo menos 350 mil pessoas estão em situação de fome na região, um número contestado pelo governo etíope. O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou os acontecimentos como "extremamente preocupantes".
Estados Unidos, Irlanda e Reino Unido solicitaram uma reunião pública de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre Tigré, que pode acontecer na sexta-feira.
Até agora, as tentativas de manter uma reunião pública do conselho sobre Tigré encontraram a resistência de países africanos, assim como de China e Rússia, entre outros, que consideram o tema um assunto interno da Etiópia.
* AFP