O presidente e o primeiro-ministro de transição no Mali renunciaram depois de terem sido detidos na segunda-feira pelos militares, informaram um colaborador do homem forte no poder e um membro de uma missão internacional.
O presidente Bah Ndaw e seu primeiro-ministro, Moctar Uane, "renunciaram perante a arbitragem", ou seja, a missão de mediação internacional atualmente presente no Mali, afirmou Baba Cissé, conselheiro especial do coronel Assimi Goita, que liderou o golpe de Estado.
"As negociações para sua libertação estão em andamento, assim como a formação de um novo governo", acrescentou.
Um membro da missão internacional confirmou, sob condição de anonimato a outro jornalista da AFP, que o presidente de transição renunciou.
Esta delegação foi transferida nesta quarta-feira de manhã para o campo militar de Kati, a cerca de 15 km de Bamako, para se reunir com os dois líderes que estão lá desde sua detenção.
O coronel Goita afirmou na terça-feira que os dois haviam renunciado, acusando-os de terem formado um novo governo sem consultá-lo, enquanto vice-presidente encarregado dos assuntos de segurança, um papel importante em um país agitado pela propagação do extremismo islâmico, e de todo tipo de violência.
O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir a portas fechadas nesta quarta para examinar a situação no Mali, onde a diplomacia francesa e seus aliados da África Ocidental tentam mediar.
Se a mediação africana lançada na terça-feira não tiver êxito, "aplicaremos sanções a todos aqueles que impedirem o desenrolar do processo de transição", declarou nesta quarta o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian.
As sanções serão aplicadas pela França, mas também por "Estados africanos e todos os atores", garantiu Le Drian, cujo país mantém uma força no Sahel, especialmente no Mali, para lutar contra os movimentos extremistas islâmicos.
Os países europeus também estão dispostos a aplicar sanções, ressaltou o presidente francês, Emmanuel Macron.
Os Estados Unidos "vão considerar medidas contra líderes políticos e militares que impedem uma transição civil para um governo democrático", disse o porta-voz do departamento de Estado, Ned Price.
"Apoiamos o povo do Mali em suas aspirações de alcançar a democracia, a paz, o desenvolvimento e o respeito aos direitos humanos", acrescentou.
A UA pediu também a "libertação imediata e incondicional" dos detidos e o retorno à transição política para que os civis voltem ao poder.
- Missão africana -
Já os emissários da África Ocidental, enviados a Bamako na terça-feira, um dia após a detenção do presidente e do primeiro-ministro, continuam a cumprir sua missão de mediação. Nesta quarta-feira, eles devem se encontrar com os dois.
A delegação da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) obteve ontem a autorização do coronel Assimi Goita, o líder do golpe de Estado que, em 18 de agosto de 2020, derrubou o presidente Ibrahim Boubacar Keita.
O encontro permitirá verificar o estado de saúde do presidente Bah Ndaw e do primeiro-ministro Moctar Ouane e averiguar se renunciaram, ou não.
Desde sua detenção e transferência para o campo militar de Kati, a cerca de 15 km de Bamako, não houve notícias diretas de nenhum dos dois líderes.
Na terça-feira, o coronel Goita indicou que os havia destituído do poder, acusando-os de terem formado um novo governo sem consultá-lo, apesar de ser o vice-presidente encarregado de Assuntos de Segurança, função primordial em um país em guerra.
O novo governo anunciado na segunda-feira excluía, de fato, dos ministérios encarregados da Segurança dois dos principais arquitetos do golpe de Estado de agosto de 2020.
"Estamos aqui para ajudar nossos irmãos do Mali a encontrar uma solução para a crise, mas deve haver clareza de que a CEDEAO pode anunciar sanções em uma próxima cúpula", disse à AFP um membro da delegação, após se encontrar com o coronel Goita.
"Explicamos as razões para destituir o presidente de transição e o primeiro-ministro", declarou, por sua vez, um membro do gabinete de Goita.
Macron falou de "um golpe dentro do golpe", referindo-se ao movimento militar que derrubou Keita e que criou um conselho de transição com a tarefa de organizar eleições após 18 meses, mas mantendo a essência do poder.
O golpe de Estado em curso, a enésima reviravolta na história contemporânea do Mali, levanta uma série de questões sobre seu impacto na luta contra os extremistas islâmicos, o futuro governo e as eleições inicialmente marcadas para 2020.
* AFP