O Iêmen, país devastado pela guerra e cenário de uma grave crise humanitária, recebeu o primeiro lote de vacinas contra o coronavírus, graças ao dispositivo Covax, anunciou nesta quarta-feira o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
O carregamento com 360.000 doses da vacina AstraZeneca chegou a Aden, capital provisória do governo reconhecido pela comunidade internacional, e integra o lote de 1,9 milhão de doses que o Iêmen deve receber em 2021, segundo o Unicef.
O país também recebeu 1,3 milhão de seringas.
O dispositivo Covax, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pretende garantir acesso às vacinas anticovid aos países com menos recursos.
O porta-voz do Comitê Supremo de Emergências do Iêmen, Ichraq Sibai, responsável pelo combate à pandemia, celebrou a notícia.
"Chega no momento adequado, pois estamos no pico de uma segunda onda caracterizada pela rápida propagação da pandemia", declarou à imprensa.
Os profissionais da saúde, os idosos e pessoas com doenças crônicas terão prioridade na vacinação nas províncias sob controle do governo.
Diversas ONGs, incluindo Médicos Sem Fronteiras (MSF), destacaram recentemente uma propagação acelerada do coronavírus no Iêmen.
MSF classificou a situação como "alarmante".
"O forte aumento de casos de covid-19 nas últimas semanas é muito alarmante e preocupante", destacou Raphael Veicht, diretor da missão de MSF no Iêmen, em um comunicado.
"Infelizmente, muitos pacientes já chegam em estado crítico", lamentou Line Lootens, coordenadora médica de MSF no Iêmen, e é difícil assumir os casos tecnicamente porque "precisam de muitos cuidados".
A capacidade do Iêmen de tratar as pessoas nas Unidades de Terapia Intensiva é "limitada" porque o sistema de saúde foi muito afetado pela guerra.
O país é cenário de um grave conflito há seis anos, que envolve o governo, apoiado por uma coalizão liderada pela Arábia Saudita, e os rebeldes huthis, apoiados pelo Irã. A guerra provocou a maior crise humanitária do momento no planeta, segundo a ONU.
O Comitê Nacional Supremo de Emergências pediu ao governo que declare "estado de emergência sanitária" e adote um "toque de recolher parcial" diante da segunda onda da pandemia.
O Iêmen registra atualmente 100 novos casos de covid-19 por dia, mas os números oficiais estão muito abaixo da realidade, segundo analistas, porque o país tem poucos testes de diagnóstico.
A nação, de 30 milhões de habitantes, registra oficialmente 863 mortes por coronavírus e 4.115 contágios.
* AFP