Uma investigação das Nações Unidas concluiu que um ataque aéreo francês no Mali em janeiro matou 19 civis reunidos em um casamento, e não apenas extremistas islâmicos, como Paris alegava até agora, de acordo com um relatório consultado pela AFP.
Após a investigação da Divisão de Direitos Humanos da Missão da ONU no Mali (Minusma), com o apoio da polícia forense das Nações Unidas, sobre os fatos ocorridos em 3 de janeiro perto de Bunti (centro), a Minusma "confirma a realização de um casamento que reuniu uma centena de civis no local do ataque, entre os quais estavam cinco pessoas armadas, supostos integrantes do Katiba Serma", afirma o resumo do relatório.
Katiba Serma está ligado ao Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM, ou JNIM em árabe), uma aliança jihadista afiliada à Al-Qaeda.
Pelo menos 22 pessoas morreram, incluindo três membros suspeitos do Katiba Serma, afirma o relatório.
O grupo afetado "era composto em sua maioria por civis, que são pessoas protegidas contra ataques pelo Direito Internacional Humanitário", destaca Minusma, que "recomenda" às autoridades malinesas e francesas que abram "uma investigação independente, credível e transparente".
Além disso, defende a análise e até mesmo a modificação dos procedimentos pré-ataque. Recomenda também, tanto franceses como malineses, que procurem estabelecer responsabilidades e, se necessário, indenizar as vítimas e suas famílias.
O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, disse nesta terça que o relatório "levanta preocupações muito importantes sobre o respeito da condução das hostilidades aos princípios de precaução e à obrigação dos Estados membros de fazer tudo [que puderem] para verificar se os alvos são de fato alvos militares".
No entanto, o Ministério da Defesa francês reiterou que "reafirma veementemente" que um "grupo terrorista armado" foi identificado e atacado. Além disso, expressou suas "numerosas reservas sobre a metodologia" usada na investigação da Minusma.
* AFP