Um comboio de ajuda humanitária chegou neste sábado a Mekele, a capital da região etíope de Tigré, pela primeira vez desde o início de uma operação do exército federal há mais de um mês, enquanto aumenta a preocupação da ONU com os refugiados eritreus nesta região.
O comboio, ao qual se uniu a Cruz Vermelha etíope, foi organizado em coordenação com as autoridades etíopes, informou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em um comunicado.
A comunidade internacional solicitava há várias semanas acesso de ajuda humanitária a esta região, praticamente isolada do mundo desde o início de uma operação militar em 4 de novembro que tinha o objetivo de destituir as autoridades regionais dissidentes.
"Esta é a primeira vez desde a explosão dos confrontos em Tigré, há mais de um mês, que ajuda internacional chega a Mekele", destacou a organização, que tem sede em Genebra.
Os sete caminhões da Cruz Vermelha transportam remédios e material médico para atender mais de 400 feridos, assim como produtos para tratar doenças comuns e crônicas.
Os recursos estão destinados ao hospital Ayder, principal estabelecimento de Mekele, onde moram quase meio milhão de pessoas, assim como à unidade regional de saúde e à farmácia da Cruz Vermelha etíope nesta cidade.
"Depois de semanas sem abastecimento, sem água corrente e sem energia elétrica, os médicos e os enfermeiros se viram obrigados a fazer escolhas impossíveis entre os serviços que poderiam ser mantidos e os que deveriam ser suprimidos", afirmou Patrick Youssef, diretor regional do CICV na África, em referência ao hospital Ayder.
O ministério da Saúde também distribuiu remédios e material médico aos centros de saúde da capital neste sábado, segundo o CICV.
O comboio da Cruz Vermelha também levou à região cobertores, lonas, utensílios de cozinha, roupas e sabonete para as 100 famílias que foram obrigadas a abandonar suas casas em consequência dos combates, além de equipamentos para melhorar o acesso à água e sistema de esgoto.
- Missões de avaliação conjuntas -
Quase 50.000 habitantes de Tigré fugiram para o vizinho Sudão e um número indeterminado estão deslocados dentro da Etiópia.
Em 2 de dezembro, a ONU celebrou ter obtido do governo etíope um acesso humanitário sem restrições a Tigré, mas ainda não conseguiu implementar a iniciativa. Adis Abeba insiste em comandar a distribuição de ajuda humanitária na região.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, anunciou na quarta-feira um novo acordo para o envio de "missões de avaliação conjuntas", exigindo que a ajuda seja distribuída a Tigré "sem nenhuma forma de discriminação".
Na sexta-feira, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) informou que ainda não tinha acesso aos quatro acampamentos de refugiados eritreus em Tigré.
O alto comissário Filippo Grandi expressou inquietação com um "grande número de informações alarmantes" sobre refugiados assassinados ou sequestrados e devolvidos pela força à Eritreia.
"Caso sejam confirmadas, estas ações constituiriam uma grave violação dos direitos humanos", advertiu, antes de pedir ao governo etíope que assuma a responsabilidade de proteger todos os refugiados.
* AFP