O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, recebe nesta sexta-feira (27) enviados da União Africana (UA) para debater sobre o conflito de Tigré, depois de ter ordenado ao Exército a ofensiva final contra a região rebelde.
Abiy, que recebeu no ano passado o Nobel da Paz por um acordo com a vizinha Eritreia, anunciou na quinta-feira (26) a "terceira e última fase" da campanha contra as autoridades regionais da Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF), que desafiam sua autoridade há vários meses.
O conflito, iniciado em 4 de novembro e que provocou a fuga de mais de 40.000 etíopes de Tigré para o Sudão, provocou centenas de mortes, mas não existe um balanço preciso sobre as vítimas dos combates.
A ofensiva final se concentra em Mekele, capital de Tigré (norte), onde vivem 500.000 pessoas e que está cercada pelas forças federais.
A comunidade internacional, preocupada com a situação dos civis em Mekele, pressiona o primeiro-ministro etíope, mas ele rejeitou "qualquer interferência nos assuntos internos" de seu país.
Entre as iniciativas está a da UA, que tem sede na capital etíope, Adis Abeba, e que designou três enviados especiais para tentar aplacar a situação.
Os enviados são os ex-presidentes Joaquim Chissano (Moçambique), Ellen Johnson-Sirleaf (Libéria) e Kgalema Motlanthe (África do Sul), que estão desde quarta-feira na capital etíope.
O governo da Etiópia se comprometeu a recebê-los "por respeito", mas rejeitou qualquer proposta de mediação.
Nesta sexta-feira, Abiy expressou em um comunicado seu "agradecimento" ao chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, que assume a presidência temporária da UA, e aos enviados especiais por seu compromisso para apresentar "soluções africanas aos problemas africanos".
Ele também recordou, no entanto, que seu governo tem "a responsabilidade constitucional de manter a ordem (em Tigré) e no resto do país", antes de destacar a paciência que demonstrou ante as "provocações" e a "agenda de desestabilização" da TPFL.
- Isolado do mundo -
Na manhã desta sexta-feira, 24 horas depois da ordem dada ao Exército federal, não era possível saber se a ofensiva contra Mekele de fato começou. Tigré está praticamente isolada do mundo, o que dificulta verificar com fontes independentes os anúncios dos dois lados.
Na quinta-feira, a televisão oficial etíope EBC afirmou que os líderes da TPLF estavam entrincheirados em vários pontos de Mekele, incluindo um cemitério, um museu e um auditório, e que se comunicavam por "rádio militar".
Abiy Ahmed justificou o envio do exército em novembro ao Tigré depois de acusar a TPLF de atacar duas bases militares federais na região, uma informação desmentida pelas autoridades locais.
Desde 1991, depois de derrubar um regime militar-marxista em Adis Abeba, a TPLF controlou o poder na Etiópia durante mais de 25 anos, até ser progressivamente marginalizado por Abiy quando ele chegou ao poder em 2018.
* AFP