Milhares de etíopes, incluindo soldados, fugiram dos combates na região dissidente de Tigré (norte da Etiópia) e cruzaram a fronteira ocidental com o Sudão, apesar de o primeiro-ministro Abiy Ahmed ter afirmado que as hostilidades estão prestes a acabar.
Nos últimos dias, a tensão entre o governo etíope e o Tigré (norte) aumentou consideravelmente, porque a região dissidente não reconhece a autoridade do Estado federal desde que as eleições nacionais, que deveriam ter sido realizadas em agosto, foram adiadas.
O primeiro-ministro etíope enviou tropas terrestres e a Força Aérea a essa região rebelde para enfrentar o governo regional, que há meses confronta o Executivo de Abiy.
Essa situação levou milhares de pessoas a fugirem para o vizinho Sudão, explicou à AFP Alsir Khaled, diretor da agência sudanesa para os refugiados na cidade fronteiriça de Kassala.
"Cerca de 3.000 refugiados cruzaram" a fronteira, informou Khaled à AFP, acrescentando que aproximadamente 30 soldados etíopes entraram em território sudanês.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) anunciou nesta terça-feira que "várias centenas" de solicitantes de asilo chegaram ao leste do Sudão, onde estavam sendo atendidos.
- "Linha vermelha" -
Premiado no ano passado com o Nobel da Paz, Abiy disse que a Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF) cruzou uma "linha vermelha" ao atacar duas bases militares federais, o que o partido regional nega.
Desde então, o Tigré está submetido a um bloqueio de comunicações, o que dificulta a verificação das notícias que chegam desse território.
Após ordenar vários bombardeios na região, Abiy afirmou que as operações contra o TPLF estavam "avançando conforme o planejado".
"As operações acabarão assim que a junta criminal for desarmada; a administração legítima, restaurada na região; e os fugitivos, capturados e levados à Justiça. Tudo isso vai acontecer muito rapidamente", tuitou.
Aparentemente, a maior parte dos combates se concentra no oeste da região do Tigré, perto da fronteira com o Sudão e a Eritreia.
Nesta terça, o presidente da Comissão da União Africana, Mussa Faki Mahamat, declarou que os combates devem acabar e que uma mesa de diálogo deve ser estabelecida urgentemente, "para buscar uma solução pacífica no interesse do país".
Em um comunicado, exigiu o "fim imediato das hostilidades" e pediu às partes envolvidas que "respeitem os direitos humanos e garantam a segurança dos civis", enquanto ofereceu o apoio da organização - composta por 55 nações africanas - para encontrar uma saída para o conflito.
As Nações Unidas e a comunidade internacional expressaram sua preocupação diante do risco de que o segundo país mais populoso da África acabe mergulhado em um conflito duradouro.
* AFP