BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - Após três noites de repressão violenta a protestos contra a reeleição do líder autocrata Alexandr Lukachenko, na Belarus, desde a manhã desta quarta (12) milhares de mulheres tomaram as ruas da capital do país, Minsk.
A maioria delas veste branco, e alguns grupos fazem protestos silenciosos, enquanto outras marcham pelas ruas da cidade pedindo liberdade. A presença feminina começou a ser vista logo cedo no centro de Minsk, com centenas de garotas perfiladas com rosas nas mãos. Algumas gritavam Nós podemos!, mas a maioria pedia silêncio, para evitar repressão.
Segundo veículos de informação bielorrussos, o protesto ganhou a adesão de alguns pedestres, mas também rejeição: motoristas gritam vá trabalhar ao passar em frente ao local da manifestação. Dispersado pela polícia, deixou uma fileira de flores no chão e se desdobrou em várias outras aglomerações de mulheres.
Não há informação de violência contra a "revolta feminina", mas espera-se uma quarta noite de protestos e repressão. Manifestantes prometeram bloquear as principais vias de acesso de Minsk, e às 19h (horário local, 13h no Brasil) já havia notícias de que grupos que começavam a se formar estavam sendo presos.
Desde a noite de domingo (9), quando começaram as manifestações, mais de 6.000 pessoas foram detidas, segundo o Ministério do Interior. Sem notícias, familiares se aglomeram desde cedo em frente ao centro de detenção de Akrescina, nos arredores de Minsk.
Segundo o ministério, na noite desta terça (11), manifestações contra a reeleição ocorreram em 25 cidades do país e deixaram 51 feridos. Desde o começo dos protestos, na noite de domingo, já são 250 hospitalizados segundo dados oficiais, incluindo ao menos uma criança.
Julia Chereukho, 5, levou quatro pontos depois que policiais estouraram o vidro do carro em que estava, provocando um corte de 2,5 cm em sua testa.
Nas redes sociais, vídeos mostravam tropas de choque retirando motoristas de dentro dos veículos e os espancando. O objetivo era impedir buzinaços contra o governo, mas a agressão foi indiscriminada, segundo Inna, mãe de Julia.
Ao site jornalístico independente Tut.by ela disse que estava parada em um congestionamento na cidade de Grodno quando a família foi cercada por policiais.
"Mãe, fomos atacados por bandidos?", perguntou, segundo Inna, a criança com sangue escorrendo pelo rosto, como mostra foto que ela divulgou na internet.
Inna acompanhou a menina no hospital, mas o pai de Julia foi detido pela tropa de choque e libertado apenas na manhã seguinte. O carro da família foi apreendido.
Moradores da cidade que falaram com a reportagem sob condição de anonimato disseram que o governo bielorrusso tem lançado ações de intimidação, com policiais não fardados atacando pedestres e veículos a esmo pela cidade.
Um deles relatou ter visto uma van, sem logotipos, perseguir um veículo até bater nele para que parasse. Os ocupantes foram depois espancados.
Independente desde 1990, após o fim da União Soviética, a Belarus é governada há 26 anos por Lukachenko, que venceu a única eleição presidencial considerada livre e justa no país, em 1994.
O crescimento da campanha da candidata oposicionista independente Svetlana Tikhanovskaia, que reuniu vários grupos e se espalhou por várias cidades do país, deixou mais evidente a manipulação dos resultados eleitorais -o governo anunciou que Lukachenko vencera com mais de 80% dos votos- desencadeando os protestos.
Tikhanovskaia, 37, uma dona de casa e mãe de dois filhos que assumiu a candidatura após a prisão de seu marido, o blogueiro Siarhei Tikhanovski, fugiu para a Lituânia na terça.
Na terça, a União Europeia divulgou um comunicado em nome dos 27 países-membros afirmando que não considera a eleição deste ano livre nem justa e que "as autoridades aplicaram violência desproporcional e inaceitável".
O bloco afirma que pode "tomar medidas contra os responsáveis
pela violência observada, prisões injustificadas e falsificação de resultados eleitorais", mas decisões sobre sanções precisam ser aprovadas por unanimidade e medidas práticas não devem aparecer tão rapidamente.
Com um afastamento dos europeus, o governo bielorrusso, já preso à órbita geopolítica e econômica russa, pode ficar ainda mais sujeito às pressões do presidente Vladimir Putin, que pressiona por mais concessões na associação chamada de Estado Único (por meio da qual a Rússia tenta reabsorver a Belarus numa única nação).
Embora líderes da oposição tenham pedido que manifestações sejam pacíficas, o governo diz que cinco motoristas jogaram seus carros contra policiais e coquetéis molotovs foram lançados.
Em Brest, um manifestante levou um tiro de munição letal, depois de não obedecer a ordem para parar de atacar a tropa, segundo o Ministério do Interior. O governo afirmou que há 14 policiais feridos.
Vídeos nas redes sociais mostravam repórteres sendo espancados, embora usassem coletes e crachá de identificação. São ao menos 50 jornalistas presos desde domingo.