O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou nesta segunda-feira (26) que Ancara continua determinada a integrar a União Europeia antes de uma tempestuosa cúpula UE-Turquia, em meio a discordâncias crescentes entre os dois lados.
Os presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e do Conselho Europeu, Donald Tusk, encontraram Erdogan em um jantar de trabalho na cidade búlgara de Varna.
A reunião entre dirigentes europeus e o presidente turco, em que o mandatário buscava uma aceleração do processo de adesão à União Europeia, terminou sem avanços concretos, disse o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.
"Em termos de soluções concretas, não conseguimos chegar a um compromisso hoje", declarou Tusk após o jantar na turística cidade búlgara, sinalizando divergências sobre a questão da Síria, os direitos humanos, Grécia e Chipre.
"Apenas avanços sobre essas questões permitirão melhorar as relações entre UE e Turquia, incluindo o processo de adesão", afirmou.
Antes do encontro organizado pela Bulgária, Erdogan admitiu que a adesão à UE continua sendo uma "meta estratégica" para a Turquia, embora o processo esteja parado há vários meses.
Falando em Istambul antes de voar para Varna, Erdogan disse que pediria aos dois líderes europeus que retomassem o processo de adesão removendo os "obstáculos políticos e artificiais".
Mas é provável que esta questão seja ofuscada por todos os assuntos sensíveis entre a UE e Ancara, como a erosão do Estado de direito na Turquia desde o golpe fracassado de julho de 2016, a isenção de visto solicitada pela Turquia, ou a ofensiva turca contra uma milícia curda na Síria.
O primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borissov reconheceu que esperava uma reunião "muito difícil".
As tensões aumentaram na semana passada, quando os líderes europeus condenaram as "ações ilegais persistentes" da Turquia no mar Egeu e no Mediterrâneo oriental, em detrimento da Grécia e do Chipre, após vários incidentes.
A Turquia descreveu as declarações da UE como "inaceitáveis" e expressou indignação após as críticas europeias sobre sua ofensiva contra os curdos das Unidades de Proteção do Povo (YPG) na região de Afrin, no noroeste da Síria.
Uma das prioridades da UE é assegurar que Ancara continue a aplicar o acordo migratório concluído em março de 2016, que reduziu significativamente as chegadas na Europa, em troca de ajuda financeira.
Mas Erdogan reclama com frequência dos "atrasos" no pagamento dos três bilhões de euros prometidos, aos quais devem ser adicionados outros três bilhões.
Além disso, Ancara pede avanços na liberalização de vistos para os turcos que viajam para a UE.
A UE manifestou em várias ocasiões preocupação com os expurgos realizados pelo governo turco desde a tentativa fracassada de golpe: mais de 55.000 pessoas, incluindo opositores e jornalistas, foram presas e 160.000 demitidas ou suspensas.
A extensão do estado de emergência em vigor na Turquia desde julho de 2016 levou a violações "sérias" dos direitos de "centenas de milhares de pessoas", alertou a ONU em um relatório divulgado na semana passada.
Neste contexto, os diplomatas e analistas não esperam qualquer progresso no processo de adesão da Turquia à UE, que está em estado de morte clínica há mais de um ano.
* AFP