O papa Francisco, que nesta sexta-feira se reuniu na capital de Bangladesh com 18 refugiados da minoria muçulmana dos rohingyas, se referiu a eles pelo nome pela primeira vez desde o início de sua viagem à Ásia.
"A presença de Deus hoje também se chama rohingya", declarou publicamente o Papa, ao término do encontro com os muçulmanos que fugiram da onde de violência em Mianmar, país vizinho e de maioria budista.
"Deixe-nos continuar a fazer a coisa certa e a ajudá-los. Vamos continuar a trabalhar para garantir que seus direitos sejam reconhecidos", disse o Papa.
"Não deixemos que nossos corações se fechem, não vamos virar o rosto", acrescentou.
Mais cedo, Francisco celebrou uma missa para 100.000 católicos em um parque de Dacca. Dezenas de milhares de pessoas, procedentes de várias regiões do país, formaram uma longa fila durante várias horas para entrar no local.
As autoridades adotaram medidas de segurança para o evento. Bangladesh registrou vários ataques jihadistas contra minorias religiosas, incluindo os cristãos, nos últimos anos.
Em um país majoritariamente muçulmano, os cristãos expressam preocupação com seu futuro ante o avanço do extremismo islâmico.
Para a minúscula comunidade de 380.000 católicos bengaleses, a visita papal, a primeira desde a realizada por João Paulo II em 1986, é motivo de orgulho.
Desde 2015, pelo menos três cristãos morreram em ataques atribuídos a extremistas muçulmanos.
Francisco, à frente de 1,3 bilhão de católicos no mundo, busca estimular as pequenas Igrejas das "periferias do planeta". Durante a missa, ordenou 16 novos padres em Bangladesh, um país que tem menos de 400 sacerdotes.
Em seu primeiro dia em Dacca, a capital de Bangladesh, Francisco pediu "medidas eficazes" para ajudar os rohingyas.
Mais de 620.000 pessoas desta minoria muçulmana apátrida entraram em Bangladesh desde o fim de agosto. Eles tentam escapar da violência do exército de Mianmar, que a ONU chamou de "limpeza étnica".
Os refugiados vivem na miséria, em acampamentos do tamanho de cidades, onde sua sobrevivência depende da distribuição de alimentos.
Francisco chegou na quinta-feira a Bangladesh, procedente de Mianmar, onde evitou usar o termo rohingyas e pediu o respeito a "todos os grupos étnico" e para "superar todas as formas de incompreensão, de intolerância, de preconceito e de ódio".
Em Bangladesh, o pontífice também evitou a palavra rohingya e falou dos "refugiados que chegam em massa do estado de Rakhine", a região birmanesa em que vive a minoria.
Em seu discurso também elogiou o país pela recepção dos refugiados, destacando seu sacrifício e "espírito de generosidade e solidariedade" de seu povo.
A crise humanitária, uma das mais graves no século XXI, é o pano de fundo da visita do papa.
Bangladesh, que tem uma população de 160 milhões de pessoas, é um dos países mais pobres do mundo e um dos mais expostos às mudanças climática.
- Descontração -
Em um momento de descontração em uma viagem sensível, Francisco passeou por algumas dezenas de metros sentado na parte de trás de um colorido riquixá. O veículo, totalmente novo, foi personalizado com barreiras de segurança para a ocasião.
"Ele sorriu todo o caminho, estou certo de que apreciou o trajeto", declarou à AFP o padre Augustine Bulbul Rebeiro, que seguiu esta incomum procissão papal a pé.
O condutor da bicicleta pareceu encantado em poder guiar um passageiro tão prestigiado, que agradeceu a ele. "Não sei como expressar minha alegria! Estou tão excitado!", exclamou Sagar Corraya.
Durante a precedente visita papal, que remonta a 1986, João Paulo II também passou em um riquixá. Em Bangladesh, estes táxis baratos e muito numerosos são frequentemente decorados em todas as cores.
cm/ces/acc.zm/cn
* AFP