Sem rivais à altura no saibro com seus 13 títulos em Roland Garros, Rafael Nadal estendeu seu domínio em todas as superfícies graças a sua força física e mental, até conquistar neste domingo o Aberto da Austrália, em superfície dura, seu 21º título no Grand Slam.
O espanhol não encontrou adversário que lhe fizesse sombra sobre o saibro durante quase 20 anos, mas mostrou claramente que é mais do que o rei desse tipo de quadra.
Em Melbourne, por exemplo, ele foi campeão apenas duas vezes, mas tem uma das melhores relações vitórias/derrotas. O título deste domingo lhe permite não apenas superar seus grandes rivais Roger Federer e Novak Djokovic (20 'majors' para cada), mas também se tornar o segundo tenista da era Open (desde 1968), depois de 'Djoko', a vencer pelo menos duas vezes em cada um dos quatro grandes torneios.
Com 90 títulos, 21 deles de Grand Slam, 209 semanas como número 1 do mundo, quatro Copas Davis e duas medalhas de ouro olímpicas, em simples e duplas, Nadal tem, aos 35 anos, um currículo impressionante, ainda maior do que o de Djokovic e Federer se forem levados em conta os quatro 'majors'.
O próprio Nadal valoriza especialmente suas duas vitórias na grama de Wimbledon, em 2008 e 2010, principalmente a primeira, após vencer uma final lendária contra o campeão suíço.
Mas é no saibro, o piso mais lento (porém o mais exigente para a cabeça e as pernas) que sua arte atingiu a perfeição. Durante mais de uma década, de abril a junho, ele foi quase imbatível: 395 jogos vencidos em 430 disputados, quase 925 vitórias.
Seus títulos em Paris, divididos em três blocos, de 2005 a 2008, de 2010 a 2014 e de 2017 a 2020, foram suas obras de arte. Nenhum campeão conseguiu vencer o mesmo Grand Slam tantas vezes.
Ninguém conseguiu tampouco vencer 81 partidas consecutivas no saibro, recorde estabelecido entre abril de 2005 e maio de 2007, ou conquistar 62 títulos nessa superfície.
- Conselhos desde cedo -
Nascido em Manacor, a terceira maior cidade da ilha de Maiorca, à qual sempre esteve intimamente ligado, Nadal passou a infância em um prédio que abrigava toda a sua família, como um clã, embora seus pais tenham se separado em 2009.
Nesse ambiente familiar, seus tios tiveram uma importância decisiva: Miguel Ángel Nadal, ex-jogador do Barcelona, fez Rafa abrir os olhos para as exigências do esporte profissional desde muito jovem, e sobretudo Toni, seu mentor desde os quatro anos até 2018, quando seu compatriota e amigo Carlos Moyá assumiu a função.
Sob a batuta de seu tio, o "treinador mais severo que se possa imaginar", como diz Nadal em sua autobiografia 'Rafa', ele suava sangue e lágrimas no clube de tênis localizado em frente à casa da família.
Segundo Toni, era o preço a pagar para transformar um menino bastante tímido em uma fera na quadra e, ao mesmo tempo, um cavalheiro dentro e fora dela.
- 'Extrema resistência com alta velocidade' -
Menos dotado tecnicamente que Federer, o espanhol triunfou graças à sua mentalidade, àquela "capacidade de aceitar as dificuldades e crescer diante da superioridade da maioria dos adversários", disse o tenista, mas também ao seu excepcional poder de concentração.
Nadal é também um atleta "que combina extrema resistência com alta velocidade, como um beija-flor", disse seu preparador físico.
Mas, seu corpo muitas vezes tem sido seu pior inimigo. Já em 2006, ele achava que estava perdido devido a um defeito congênito no pé que o obrigou a usar calçados feitos sob medida. Em seguida, problemas no joelho e no pulso o afastaram das quadras por longos períodos.
Esse atleta, que faturou mais de 112 milhões de euros (US$ 125 milhões), sem contar a receita de publicidade, se descreve como uma pessoa normal que gosta de pescar com os amigos, assistir a partidas de futebol - esporte que preferia ao tênis quando criança -, e passar o tempo com sua esposa Francesca, uma maiorquina com quem vive desde 2005.
* AFP