Você conseguiu o tão sonhado emprego, mas acredita que não foi mérito, e sim pura sorte. Se sente desconfortável em seu cargo, porque acha que não merece ocupá-lo. Recusa novos desafios, pois tem certeza de que vai fracassar. Essas situações exemplificam sinais da síndrome do impostor, uma condição psicológica que se caracteriza principalmente pelo fato de duvidar de suas próprias habilidades e se sentir uma fraude, independentemente do sucesso e do reconhecimento conquistados. Conforme especialistas, o problema pode afetar o desenvolvimento profissional, mas há estratégias que auxiliam no enfrentamento.
A definição do termo foi estabelecida em 1978 por duas pesquisadoras norte-americanas. No entanto, a consultora do PUCRS Carreiras Ana Cecília Petersen esclarece que não se trata de um transtorno psicológico e que a maioria das pessoas se sente uma fraude no ambiente de trabalho em algum momento da vida.
— Quem tem essa síndrome possui uma crença de que não é bom o suficiente. Então, por mais que consiga ter vários resultados positivos ou promoções, não consegue se perceber dentro disso. O exemplo é uma pessoa super bem-sucedida na área que escolheu, que tem a sensação de que ocupa uma cadeira maior do que merece — comenta a especialista.De acordo com a psicóloga Ana Carolina Peuker, CEO da Bee Touch, a síndrome do impostor se manifesta por meio de diferentes sinais, como autocrítica excessiva, dificuldade em aceitar elogios ou sucessos e uma constante sensação de inadequação. Isso pode causar impacto significativo na carreira, levando à procrastinação, fuga de desafios, falta de confiança e ao abandono de oportunidades promissoras, devido ao medo de falhar.
— As mulheres são mais afetadas pela síndrome do impostor devido a uma combinação de fatores sociais, culturais e psicológicos. Em muitas sociedades, elas enfrentam expectativas e pressões adicionais em relação ao desempenho e à conformidade com padrões de sucesso idealizados. Além disso, estereótipos de gênero podem contribuir para a internalização de crenças autodepreciativas — destaca Ana Carolina.
Não há, entretanto, um diagnóstico clínico formal para a condição, mas profissionais de saúde mental podem ajudar a identificar os sintomas, bem como oferecer suporte emocional e estratégias de enfrentamento para esses pacientes. As especialistas apontam que é possível superar a síndrome com o auxílio de técnicas de autoconhecimento, da terapia cognitivo-comportamental e da mudança de padrões de pensamento autocrítico.
Nesse cenário, além da psicoterapia, Ana Cecília também considera importante buscar uma consultoria de carreira, investir na qualificação constante e compartilhar seus medos e inseguranças com pessoas próximas.
— Outro aspecto que ajuda muito é ter em mente tudo que já construiu em sua trajetória, nomear suas habilidades, por que se destaca, quais feedbacks positivos já recebeu. Anotar isso em um papel é uma forma de ir criando propriedade sobre si e ter clareza de quem é. Mas não tem uma fórmula mágica, vai exigir tempo, dedicação e energia para mudar o padrão de comportamento — reforça a consultora de carreira.
Ana Carolina concorda que é fundamental reconhecer seus próprios sucessos e conquistas, assim como desafiar pensamentos negativos e aceitar as dificuldades e falhas como parte do processo de aprendizado e crescimento:
— Ao identificar e modificar padrões de pensamento autossabotadores, validar suas conquistas, aceitar suas imperfeições e buscar apoio quando necessário, é possível superar a síndrome do impostor, descobrir o seu verdadeiro valor e atingir seu potencial pleno.
Cinco perfis básicos da síndrome do impostor:
- Perfeccionista: estabelecem metas extremas para si mesmos e, quando falham em alcançar uma meta, experimentam ansiedade, autodúvida e preocupação. Sentem-se como uma farsa porque seus traços perfeccionistas fazem acreditar que não são tão bons quanto os outros podem pensar
- Especialista: nunca se sentirão satisfeitos porque acham que ainda não sabem tudo sobre o assunto. Como sempre há mais para aprender, temem ser expostos como inexperientes ou ignorantes
- Gênio natural: acreditam que são naturalmente inteligentes ou competentes. Então, se não acertam algo logo na primeira tentativa ou se levam muito tempo para dominar algo, sentem vergonha
- Solista: temem que pedir ajuda revele sua incompetência. Podem recusar ajuda na tentativa de provar seu próprio valor
- Super-herói: sentem que devem ser o trabalhador mais dedicado ou alcançar os mais altos níveis de realização possíveis e, se não o fizer, será uma fraude
Fonte: Valerie Young - The Secret Thoughts of Successful Women: Why Capable People Suffer From the Imposter Syndrome and How to Thrive.