
Em 2022, quando o Brasil passou mais de 10 meses com inflação anual acumulada em dois dígitos, surgiu o fenômeno da "fakeflação", com maquiagem de produtos para reduzir o custo e facilitar a compra pelo consumidor. Na época, os mais famosos foram venda de soro de leite (subproduto da fabricação de queijo) em embalagens semelhantes às do leite longa vida e caixinhas que tinham "mistura láctea condensada".
Agora, a "fakeflação" voltou. Já surgiu o pó "sabor café" e agora, aparecem os ovos de Páscoa "sabor chocolate". O que explica a denominação é o fato de que, no Brasil, é necessário ter ao menos 25% de cacau na composição para que um produto possa ser chamado de chocolate. Menos do que isso, vira "sabor chocolate". Não é ilegal nem irregular se estiver escrito bem claro na embalagem. Mas é bom lembrar que muita gente não lê essa informação.
E preço do cacau, como se sabe, está na estratosfera: no IGP-M de abril, a alta acumulada em 12 meses saltou de 19,92% para 63,63%. Por ser matéria-prima, não produto para consumo final, o cacau não entra no levantamento do IPCA, o índice oficial de inflação. Sua variação é acompanhada via IGP-M, que tem um subíndice de preços ao produtor.
O aumento do preço do cacau é determinado, principalmente, por uma forte seca no maior produtor do mundo, Costa do Marfim, na África. Em 2022, os derivados do leite eram os mais visados porque a bebida havia subido 10,72% em um mês e acumula alta de 41,7% entre janeiro e junho, conforme dados do IPCA do IBGE.
Os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três componentes: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado oficial porque serve de referência para o Banco Central calibrar o juro básico. Mede variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo