Quem gosta de jogos e acompanha minimamente a indústria de videogames já deve ter ouvido falar da Electronic Entertainment Expo, mais conhecida como E3. Um dos mais tradicionais e importantes eventos da indústria sempre foi motivo de para os apaixonados por videogames para as próximas novidades e gerações de games, no entanto enfrenta problemas há algum tempo, que foram ainda mais agravados pela pandemia da Covid-19 e podem chegar a deixar de ser realizado.
Para entender melhor o futuro da E3, vamos dividir a questão em três “Es”.
E1 – Entender a origem
A E3 começou como um evento comercial para a indústria de videogames, focado principalmente para jornalistas e demais membros da indústria. Organizado pela Entertainment Software Association (ESA), a E3 sempre foi o local onde muitos desenvolvedores, editores, fabricantes de software, hardware e acessórios para a indústria dos games usam para apresentar e anunciar seus próximos jogos e relacionados aos varejistas e membros da imprensa.
Como visto em exposições tradicionais, seus pavilhões contam com espaços para desenvolvedores, editores e fabricantes mostrarem seus títulos e produtos à venda nos próximos anos. Além disso, antes e durante o evento, as principais publishers e fabricantes de hardware costumam realizar as famosas coletivas de imprensa, para anunciar suas novidades em primeira mão. Gerações de consoles foram revelados durante o evento, alguns dos maiores e mais queridos jogos até hoje, enfim, a E3 sempre foi sinônimo de antecipação do futuro dos games. Tanto que inúmeros sites e revistas especializadas marcavam presença para ver e testar as novidades e levar todas as informações ao público gamer.
Em sua primeira década de realização, a E3 foi apenas sinônimo de sucesso. Com o crescimento de público, de 40 para quase 60 mil participantes, até 2006 esse era o mais importante evento de games da indústria, que tomava praticamente todo o Centro de Convenções de Los Angeles, Califórnia, onde é tradicionalmente realizado.
Com o tempo, a E3 foi considerada a maior exposição de jogos do ano, em importância e impacto até 2017, quando era um evento exclusivo da indústria com mais de 60 mil participantes. Na época, a ESA exigia que quem desejasse participar validasse um relacionamento profissional com a indústria de videogames. No entanto, com o passar do tempo, crescimento do mercado de games e mudanças na forma de se consumir conteúdo e jogos, isso precisou mudar.
E2 – Entretenimento que precisou se adaptar
Com o surgimento da mídia de streaming e de outros eventos que também marcaram importância no mercado, como a Gamescom e a BGS, por exemplo, várias das coletivas de imprensa começaram a ser transmitidas ao público para aumentar sua visibilidade. Em 2013, empresas de videogames de grande importância para o mercado, como Nintendo e a Electronic Arts, optaram por não se apresentar na E3. A Nintendo abriu mão de uma grande apresentação principal e, em vez disso, usaram o Nintendo Direct, seu programa on-line pré-gravado, e outros eventos de vídeo ao vivo durante a semana da E3 desde então para mostrar seus novos produtos, embora ainda tenham estandes no showfloor para demonstrações práticas e testes de seus produtos. A Electronic Arts, por sua vez, criou seu próprio evento desde 2016, o EA Play. Separado, mas em local próximo, a marca anunciou seus títulos. A justificativa da EA foi o resultado da falta de acesso público ao show principal da E3. Outras marcas, como Microsoft e Sony, usaram eventos pré-E3 para mostrar revelações de hardware e jogos, deixando a E3 para cobrir seus novos jogos em seus próprios eventos.
Como contrapartida, a E3 2017 então mudou seu formato e foi aberta ao público pela primeira vez, com 15.000 passes gerais além dos de imprensa e indústria, para quem quisesse participar. Só para se ter uma ideia, a Gamescom 2017, realizada na Alemanha, já contava com público de 355 mil pessoas no período. Por mais que tenha uma proposta diferente – mais focada no público que apenas na indústria, como era a proposta da E3 – não dá para ignorar a Gamescom e suas mais de 300 mil pessoas em um evento com o mesmo foco: os games.
E se isso não fosse o bastante, 2020 foi marcado por mais uma questão…
E3 – E agora?
A enorme expectativa de um retorno mais forte das marcas na E3 no ano de lançamento do PlayStation 5 e Xbox Series X | S seria perfeito para reacender a chama da E3. Entretanto, veio a pandemia da Covid-19, que obrigou o evento a ser, pela primeira vez em sua história, cancelado. Isso acabou por acender outra chama: seria esse o fim da E3?
No mesmo período do evento, Geoff Keighley (jornalista canadense que criou o Oscar do videogame, o The Game Awards) criou e realizou o Summer Game Fest, evento digital que anunciou as novidades do ano. Em parceria com o Summer of Gaming, do website IGN, eles supriram a demanda por anúncios das novidades e dos novos consoles.
Contudo, para não deixar o evento morrer, as mesmas Nintendo e Microsoft voltaram em 2021 para uma E3 2021 em formato totalmente digital, devido às restrições da pandemia, com a promessa de voltar a todo vapor, presencialmente, em 2022. O evento digital aconteceu, bons anúncios foram feitos e a E3 começou sua divulgação presencial. Porém, no mesmo momento, vimos o aumento de casos e a incerteza da liberação de eventos presenciais devido à variante da Covid-19, Ômicron. Inevitavelmente, a ESA avisou, inicialmente, que teria uma nova versão de um evento totalmente digital, que com o tempo acabou se transformando em um novo cancelamento total do evento este ano. A ESA promete que esse tempo servirá para planejar o tal retorno triunfal presencial em 2023, enquanto, em paralelo, teremos a terceira edição do Summer of Gaming e Summer Game Fest, seus novos “concorrentes” digitais, o que só transformou a chama em fogueira: será esse o fim da E3?
Mas essa é uma pergunta que acontece desde 2013, quando os primeiros grandes nomes saíram da E3. Claro que os cancelamentos em dois anos, por questões sanitárias, levantaram tamanha suspeita com ainda mais força. Todavia, a indústria (que é responsável por esses questionamentos, deixemos isso claro) respira a E3 em Los Angeles. Por mais que o evento seja realizado em três dias, a semana E3 (somados os dias anteriores de pré-conferências) faz o mundo parar para consumir videogames como nunca. Os hotéis e grandes prédios, como o Microsoft Theater – onde o Xbox faz suas revelações – ficam lotados de empresas que aproveitam da aura da E3, e com abertura para o público, a ESA ainda tem a arma perfeita para cumprir sua promessa e trazer a E3 de volta.
Então, em suma, ainda acredito que a E3 não verá seu final agora. Talvez de forma híbrida – esse novo termo adotado por empresas nesse período quase pós-pandêmico -, como a Gamescom fará este ano, seja o início de uma nova E3, ou ainda, totalmente presencial, estendendo seus tentáculos para o próprio Microsoft Theater do Xbox, já que a possibilidade de parceria existe, por que não?
E você, ainda acredita na E3?
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