À medida que a pandemia acelerou a digitalização global da vida pessoal e profissional, foi explosiva a transformação da indústria e a adoção do armazenamento em nuvem. O digital é o “novo normal” econômico: na próxima década, 70% do novo valor econômico criado globalmente virá de modelos de negócios de plataformas digitalmente habilitados, conforme prevê o Fórum Econômico Mundial.
No entanto, os dados digitais não são efêmeros, como se costuma pensar. Por ficarem armazenados em data centers – instalações que hospedam, gerenciam, distribuem e protegem informações digitais – eles também deixam sua pegada física (diferente das demais, mas deixam). De uma perspectiva sustentável, o gerenciamento de dados é uma preocupação ambiental importante para qualquer empresa. A parceria com o provedor de nuvem certo precisa ser encarada como uma decisão estratégica.
Tanto as organizações tradicionais quanto as digitais têm a responsabilidade de medir as emissões provenientes de seus dados, mesmo quando eles estão nas mãos de um provedor terceirizado. As empresas precisam assumir a responsabilidade de influenciar a forma como os provedores de nuvem gerenciam os dados, de cobrar que o façam de forma sustentável, bem como de questionar como e onde os data centers são construídos e gerenciados durante a sua vida útil.
Em 2021, os data centers consumiram cerca de 3% de toda a eletricidade gerada globalmente. Esse número, o triplo do que era há apenas cinco anos, deve crescer para 8% até 2030, caso as tendências de consumo de energia projetadas não sejam combatidas por eficiência tecnológica.
Tanto as entidades tradicionais quanto as digitais têm a responsabilidade de medir as emissões provenientes de seus dados, mesmo quando eles estão nas mãos de um provedor terceirizado.
Mas o consumo de energia não é o único risco ambiental a ser considerado. A necessidade de construir data centers cada vez maiores é voraz. Em 2021, havia 8 mil deles em todo o mundo, sendo que mais de um terço estava localizado na América do Norte. A partir de 2021, os “três grandes” provedores de nuvem – Microsoft, Amazon e Google – controlavam metade dos 600 data centers de hiperescala do mundo, ou instalações entre 9,2 mil e 92 mil metros quadrados.
As pegadas de carbono das construções, os ciclos de substituição dos hardwares, as necessidades de fiação, os sistemas de refrigeração, o uso de água potável e os requisitos de geração de energia redundantes contribuem para uma pegada ambiental significativa. É fundamental entendê-la e gerenciá-la.
Abaixo destacamos cinco considerações sobre data centers que os diretores de sustentabilidade de cada empresa devem discutir com seus (potenciais ou atuais) provedores de nuvem.
- Qual é a composição dos gastos de energia dos data centers que hospedam os dados da sua empresa?
Cerca de 40% do consumo de energia de um data center é usado para resfriar os farms ou, como se diz em português, as fazendas de servidores (conjunto de servidores ligados em rede). Mas a maioria instalou sistemas de resfriamento mecânicos altamente ineficientes e que consomem muita energia, geralmente em telhados de edifícios. Sistemas de resfriamento “gratuitos” mais sofisticados usam corpos d’água já disponíveis ou o ar naturalmente frio para manter os servidores em uma temperatura constante, evitando o superaquecimento.
Para garantir redundância de energia dupla e tripla, geradores a diesel de backup são a norma, e não a exceção, em data centers. Esses geradores devem queimar o combustível não utilizado periodicamente para o funcionamento adequado, o que exige que funcionem por períodos semi-prolongados. Cada vez mais, os data centers avançados obtêm energia renovável no local e empregam sistemas de energia de backup de baixa ou nenhuma emissão de carbono, que suportam resiliência e redundância para servidores sempre ativos.
- Como seus data centers são projetados e onde estão localizados?
Um ambiente rural permite construir um data center maior e mais expansivo, capaz de centralizar o gerenciamento de dados e de otimizar o design interno das fazendas de servidores e dos sistemas de cabeamento. Os sistemas de recuperação de calor podem usar o calor residual gerado pelos servidores para suprir as necessidades elétricas de escritórios ou das comunidades locais.
Mas o fornecimento de energia pode ser menos confiável, exigindo tecnologia de geração de energia prejudicial ao meio ambiente. As configurações rurais também exigem que os suprimentos sejam transportados por caminhões por distâncias mais longas, gerando maiores pegadas de emissão de carbono. Às vezes, esses projetos também convertem campos verdes em parques industriais, o que pode afetar a hidrologia da terra no entorno.
- Quais inovações tecnológicas são empregadas em seu data center?
Se o seu provedor de nuvem for um dos três grandes maiores, a inteligência artificial (IA), o aprendizado de máquina (ML) e a computação de borda (edge computing) estão reduzindo a quantidade de tempo e energia necessários para processar os dados do cliente, o que também reduz as emissões. Se seu provedor de nuvem não for nenhum desses, tente descobrir como seu data center está otimizando o uso de energia, os tempos de atividade do servidor e os riscos de segurança de dados com tecnologias de IA e ML.
- Como os materiais, lixo eletrônico e embalagens são manuseados no final de sua vida útil?
Os data centers são conhecidos por serem instalações físicas de alto consumo de equipamentos de computação e da fiação que os alimenta. Eletrônicos, como cabos e geradores de backup são normalmente substituídos a cada três a cinco anos. Além disso, todos os produtos do data center vêm em embalagens que somam dezenas de toneladas de caixas a serem recicladas anualmente. Cabe aos gerentes se certificar de que todo esse material seja reciclado de forma responsável. Pergunte ao seu provedor de nuvem qual é a política de reaproveitamento e descarte do material do data center no final de sua vida útil.
- Seu data center opera de acordo com um padrão de sustentabilidade ou segue alguma medida de conformidade do setor?
Quem é responsável por auditar e avaliar o desempenho de sustentabilidade dos data centers? Essa informação está disponível publicamente? Como seu provedor de nuvem se classifica entre seus pares, em termos de desempenho de sustentabilidade? É aqui que a indústria precisa progredir o quanto antes, dado o crescimento previsto para os próximos anos e sua natureza ávida por consumir mais energia.
Cada um desses fatores determina o impacto que um data center – e, por padrão, entidades habilitadas digitalmente – têm no ambiente. Não é suficiente deixar a responsabilidade e o fardo dos relatórios de emissões recaírem somente sobre os provedores e sobre quem gerencia diretamente os servidores. Compreender a combinação de possibilidades dos data centers e incorporar a sustentabilidade na tomada de decisão faz sentido para os seus negócios e para o meio ambiente.
O post Perguntas que precisam ser feitas às empresas de computação em nuvem sobre sustentabilidade apareceu primeiro em Fast Company Brasil | O Futuro dos Negócios.
