Você já voltou ao trabalho presencial? A princípio, esse era parecia ser o grande objetivo, o tão aguardado momento que marcaria o final da pandemia, pelo qual todos esperávamos após cerca de dois anos vivendo sob restrições. Mas e agora? Será que essa volta realmente faz sentido?
O trabalho remoto deixou de ser uma solução temporária para conter a crise e passou a ser visto como uma rotina, com seu próprio ritmo e muitas vantagens. Muitos descobriram que o aumento da flexibilidade e a redução do tempo de deslocamento podem compensar o cansaço das reuniões via Zoom. Mas, depois disso tudo, sua empresa está querendo que você retorne ao escritório, que volte àquele modelo que tinha ficado para trás em março de 2020.Nesse caso, como convencer seu chefe a pensar duas vezes?
A primeira regra da persuasão é: nunca tente convencer ninguém afirmando que eles estão errados. A melhor abordagem é escrever um memorando que comece reconhecendo as preocupações que seu chefe também deve ter. “É verdade, o regime remoto afetou a cultura corporativa e pode ter diminuído a inovação.” Em seguida, sugira uma maneira diferente de lidar com isso, que aborde os problemas, mas que destaque os melhores aspectos do trabalho remoto.
É importante deixar claro que você não está baseando seu discurso somente em opinião, mas em dados. Por exemplo, nosso projeto, Go Forward to Work reuniu, nos dois últimos anos, as melhores práticas de mais de 2.000 executivos em todo o mundo. Assistimos de perto como algumas empresas tiveram sucesso no olho do furacão. Compartilhar dados e exemplos como esses prova que o trabalho remoto pode ser aprimorado para trazer melhores resultados e que o home office pode ser muito mais do que apenas substituto temporário para o “trabalho real” no escritório.
Mesmo assim, você ainda tem medo que seu chefe entenda isso como uma reclamação pessoal e não como uma sugestão inovadora e construtiva? Peça a ele (ou ela) uma oportunidade de apresentar cinco sugestões de como tirar o melhor do trabalho remoto.
GRUPOS MENORES PROPICIAM BRAINSTORMS MAIS INCLUSIVOS
Em grandes reuniões, algumas vozes sempre se sobressaem a outras, porque alguns são mais introvertidos ou têm medo críticas. Sugira que, em vez de reuniões com muitos participantes, as equipes sejam dividas em grupos menores – de três a quatro pessoas – para discutir o problema em questão. As ideias podem ser registradas em um documento compartilhado por todos.
Por quê? Porque grupos menores inspiram coragem e franqueza: os participantes provavelmente autodiagnosticam argumentos fracos e eliminam a autocensura, para que as melhores ideias possam ser ouvidas. Lembre seu chefe de que as vozes mais altas tendem a dominar as reuniões presenciais, enquanto os participantes avessos a conflitos (74%, de acordo com nossa pesquisa) ficam mais quietos, o que significa que geralmente os chefes não estão escutando todos. Eles não estão necessariamente ouvindo as melhores ideias, mas apenas quem fala mais alto. É importante ressaltar que grupos menores incentivam uma união mais profunda da equipe, garantindo que todas as ideias sejam transmitidas. Dessa forma, membros que evitariam fazer intervenções em reuniões lotadas – e que ficariam apagados – podem trazer suas contribuições.
O TRABALHO ASSÍNCRONO DISPENSA REUNIÕES DESNECESSÁRIAS
A colaboração não precisa começar com uma reunião física. Quando Gil West deixou a Delta Airlines para se tornar COO da empresa de carros autônomos Cruise, ele pensava que a solução colaborativa de problemas devia começar sempre com uma reunião. Mas sua nova equipe lhe ensinou uma abordagem diferente, esclarecendo que as reuniões podiam ser “o que você faz depois de falhar em quebrar o código ou colaborar de forma assíncrona”.
Em vez de colocar as pessoas em uma sala para sua próxima reunião, convença seu chefe dos benefícios do trabalho assíncrono. Por exemplo: alcançando mais pessoas com ferramentas virtuais, você pode ampliar drasticamente o número de perspectivas que você traz para um problema. Isso não apenas permite que você trabalhe mais detalhadamente os problemas e suas possíveis soluções, mas também cria uma maior adesão quando uma decisão final for alcançada.
EXISTE AFETO NAS RELAÇÕES VIRTUAIS
Lembre seu chefe de que sua equipe já encontrou maneiras de se sentir unida durante a pandemia, mesmo que à distância. Muito provavelmente, esses momentos nasceram da vulnerabilidade e da autenticidade, estados de espírito que podem ser alcançados tanto virtualmente quanto pessoalmente, no auge de uma crise ou em uma segunda-feira qualquer.
Uma maneira de chegar nesse estado de espírito é marcando conversas frequentes com seus colegas de equipe e gerentes para discutir com franqueza “como andam as coisas”, tanto profissionalmente quanto pessoalmente, incluindo sucessos e lutas. Outro método: iniciar todas as reuniões pedindo aos participantes que compartilhem algo de positivo e algo de negativo em suas vidas. Nenhuma dessas duas táticas precisa ser aplicada pessoalmente. Tudo o que importa é que a ligação seja significativa e intencional, e não mecânica ou por obrigação.
É POSSÍVEL PRIORIZAR A HONESTIDADE
“Virtual” não significa falso. Você pode priorizar a honestidade em qualquer tipo de ambiente de trabalho. Sugira que quem está conduzindo uma reunião esteja pronto para estimular a sinceridade dos demais. Se perceber que os participantes estão evitando abordar o elefante branco na sala virtual, seu chefe pode perguntar: “O que vocês estão incomodados de dizer?” Se uma primeira pessoa resolve falar, é provável que outras também sigam o exemplo. Assim, é possível evitar o “silêncio por constrangimento” e enfrentar os problemas.
APRESENTE-SE COMO UM AGENTE DE MUDANÇAS
A passagem do trabalho remoto de um paliativo um para um avanço está de mãos dadas com a reformulação dos profissionais, que deixam de ser meros cumpridores de regras para se tronarem agentes de mudanças construtivas. Quem sabe você não consegue até uma promoção por ajudar seu chefe a imaginar e experimentar alternativas melhores do que o retorno ao presencial, demonstrando o potencial e os resultados positivos do home office?
Mas não restrinja essa conversa ao seu chefe. Converse com outros líderes em sua organização. Escreva um e-mail para seu CHRO e peça uma breve reunião de 15 minutos na qual você possa compartilhar algumas das melhores práticas de colaboração híbrida. Obtenha o apoio do CFO, argumentando que o trabalho remoto pode economizar dinheiro da organização, sem prejudicar a inovação e os lucros.
Ou seja, antes de começar aquela faxina no seu escritório que ficou fechado, bata (virtualmente) na porta da sala do seu chefe. Essa pode ser a sua oportunidade de contribuir para que a sua empresa dê um passo à frente, em vez de retornar aos moldes antigos.
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