BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro Paulo Guedes (Economia) disse nesta terça-feira (11) que sua equipe econômica sofreu "uma debandada". Dois secretários especiais pediram demissão.
Segundo Guedes, Salim Mattar (Desestatização) e Paulo Uebel (Desburocratização) decidiram deixar o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
Salim era o responsável pelas privatizações e Uebel pela reforma administrativa. "Guedes reconheceu que ambos estavam insatisfeitos com o ritmo da execução de seus projetos.
"Hoje houve uma debandada? Hoje houve uma debandada", disse Guedes. "Salim falou: 'A privatização não está andando, prefiro sair'. Uebel disse: 'A reforma administrativa não está sendo enviada, prefiro sair'. Esse é o fato, essa é a verdade."
O anúncio foi feito ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Se referindo ao poder de decisão da cúpula do Congresso e de Bolsonaro, o ministro disse: "Senhores, quem dá o timing das reformas é a política. Quem tem voto é a política".
"Se o presidente da República quiser mandar alguma reforma é mandada, se não quiser, não é mandada", disse.
Uma proposta de reforma administrativa chegou a ser elaborado por Uebel em 2019, mas ela sequer foi apresentada ao Congresso diante da resistência de Bolsonaro. Em relação às privatizações, a equipe econômica cita entraves políticos e burocráticos.
A saída dos secretários reflete uma aceleração nas baixas do Ministério da Economia.
Em julho, Mansueto Almeida deixou o comando do Tesouro Nacional, e foi substituído por Bruno Funchal. Apesar de a troca ter sido esperada, foi a queda mais relevante da equipe de Guedes até então.
Depois, foram anunciadas as saídas do presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, e do diretor de programas do Ministério da Economia, Caio Megale.
Em abril, Marcos Troyo foi escalado para assumir a presidência do banco dos Brics (sigla para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Nesse caso, saiu, portanto, com apoio do próprio governo.
No ano passado, Joaquim Levy e Marcos Cintra deixaram, respectivamente, a presidência do BNDES e o comando da Receita Federal.
A debandada desta terça teve, nas palavras de Guedes, como principal fator a demora na execução de planos do Ministério da Economia.
Além da avaliação do timing político para apresentar projetos estruturantes, a equipe econômica vem sofrendo resistência dentro do próprio governo. A dificuldade em apresentar a reforma administrativa, por exemplo, tem como origem críticas do Palácio do Planalto, inclusive do presidente Jair Bolsonaro.
Em relação ao plano de privatizações, Guedes já vinha demonstrando publicamente a insatisfação dele e de Mattar diante dos atrasos. Ainda na campanha eleitoral, Guedes apresentou a intenção de privatizar todas as estatais e, com isso, arrecadar R$ 1,2 trilhão --dinheiro que seria usado para abater a dívida pública.
Mas esse plano ainda está longe de ser executado. Guedes, após assumir o governo, já reconheceu que esse projeto também tem que passar por um crivo político e, por isso, não consegue realizar uma privatização tão ampla.
Apesar dos entraves, especialmente burocráticos, para as privatizações, o ministro costuma repetir que nas próximas semanas irá anunciar três ou quatro grandes operações de vendas de estatais. Para isso avançar, porém, precisará de apoio no Congresso.
A principal aposta do governo para 2020 era a venda do controle da Eletrobras, que poderia render R$ 16 bilhões à União. A ideia foi abandonada, mas o secretário esperava ao menos a aprovação de um projeto que viabiliza a privatização, o que ainda não ocorreu.
O plano audacioso de privatizações não andou no primeiro ano de governo. Em 2020, o plano foi interrompido pela pandemia do novo coronavírus. Após o agravamento da crise sanitária, Mattar anunciou a desistência do governo privatizar estatais neste ano. Segundo ele, não há ambiente no mercado para essas negociações.
"É um sinal da insatisfação dele [Mattar] com o ritmo das privatizações. (...) O establishment não deixa haver privatização", afirmou Guedes.
Outras baixas na equipe econômica
Jul.20
- Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil
- Caio Megale, diretor de Programas do Ministério da Economia
- Mansueto Almeida, secretário do Tesouro Nacional
Set. 19
- Marcos Cintra, secretário especial da Receita Federal
Jul.19
- Joaquim Levy, presidente do BNDES