Kele Fabiani posa após ter superado o câncer de mama duas vezes (Foto: Cássia Abreu Corrêa Nunes, divulgação) Amanda se tornou a primeira policial gaúcha capacitada para operações aéreas. (Foto: Cássia Abreu Corrêa Nunes, divulgação)
Camila Maccari, especial
Nove anos à frente da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Rio Grande, no sul do Estado, fizeram com que Ligia Furlanetto percebesse um ponto em comum entre as vítimas de relacionamentos abusivos: a baixa autoestima. O sentimento pode vir de anos de abusos físicos e psicológicos ou também da bagagem de inseguranças que muitas mulheres carregam por não atingir certos padrões. O resultado, conclui Ligia, é que muitas não têm força para romper um ciclo de violência:
Muitas vezes, há o problema financeiro de sair de um relacionamento, mas, em grande parte, o maior vínculo é o psicológico. Elas acreditam que não conseguem assumir as rédeas da própria vida.
Buscando uma forma de prevenir a violência doméstica, as agentes da Deam criaram o projeto Por Trás Daquele Rosto, com histórias que dão um novo sentido para os conceitos de sucesso e beleza. Dezoito mulheres, entre 20 e 69 anos, foram fotografadas pela oficial Rita de Cássia Abreu Corrêa Nunes e tiveram suas histórias contadas em textos escritos pela própria Ligia em parceria com Eduardo Pitrez, professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Rio Grande (Furg).
– As fotografadas não são vítimas de violência doméstica, pelo contrário: elas funcionam como antídoto para a realidade das que se sentem presas em um ciclo de sofrimento. Queríamos traçar o paralelo entre a prevenção da violência e a liberdade. Contar a história de mulheres que são livres e por isso mesmo são autossuficientes, bem resolvidas, cheias de força para lidar com inseguranças e desafios – explica Ligia.
Uma das mulheres fotografadas é Kele Fabiani Souza, que enfrentou o câncer de mama em 2011, aos 38 anos, e outra vez em 2017, enquanto seguia fazendo bolos e kits com legumes para vender e ajudar a sustentar a casa. Nos períodos de tratamento, Kele usou suas redes sociais para pedir ajuda e falar sobre a doença e sua fé inabalável.
– Precisa-se de muita força para enfrentar uma doença como o câncer de mama, e eu tinha orgulho de dizer que venci. Hoje, tenho mais orgulho ainda de dizer: eu venci o câncer de novo.
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Outra história é a de Amanda Soares da Silva Mattos. Aos 30 anos, a inspetora é primeira policial civil no Rio Grande do Sul e a segunda em todo o Brasil a concluir com sucesso o Curso de Operador Aerotático, que a habilita a integrar a equipe de operações aéreas.
– Eu foquei muito, me preparei muito, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Dentro da Polícia Civil ainda há muitas áreas em que não há mulheres e espero poder ser uma motivação.
As histórias enriqueceram o próprio trabalho do Deam. Agora é possível contar do projeto, apontar para as fotografadas e usá-las como motivação: são pessoas próximas que decidiram lidar com seus medos.
A exposição está em cartaz no Partage Shopping, de Rio Grande, até este sábado (31), e depois segue para a Furg.