Numa versão "desmontada", Pabllo sem o look que compõe sua versão drag queen. Foto: Reprodução/Instagram Foto: Reprodução/Instagram Vencedora do troféu de Música do Ano com K.O., no Domingão do Faustão. Foto: Reprodução/Instagram No programa Amor & Sexo, de Fernanda Lima, ao lado de Regis Paulino (esquerda) e Dudu Bertholini. Foto: Reprodução/Instagram Passagem da Pabllo por Porto Alegre em setembro. Foto: Andréa Graiz
Nocaute. Um belo e glamuroso nocaute. Velho conhecido do boxe, o termo pode até parecer uma referência inusitada, mas é mais do que apropriado para definir a ascensão meteórica de Pabllo Vittar desde janeiro do ano passado, quando lançou seu álbum de estreia, Vai Passar Mal. Depois de Todo Dia, hit absoluto do último Carnaval, foi com K.O. que a cantora de 23 anos arrebatou fãs de todas as idades para o seu ringue. Um ano depois, é impossível não notar: ao lado de Anitta, a drag queen desponta como uma das maiores popstars do momento.
Para além das paradas musicais, Pabllo questiona padrões já no nome. À primeira vista, parece difícil acertar no artigo. Mas basta olhar para a artista de longos cabelos loiros, olhos esfumados e cílios postiços perfeitamente alinhados para que a dúvida desapareça: agora, é ela, a drag queen Pabllo Vittar. Quando tira a peruca, tanto faz, garante Phabullo Rodrigues da Silva, nome que consta na certidão de nascimento registrada em São Luís, no Maranhão. O debate sobre as linhas cada vez mais tênues entre os gêneros é apenas mais um que Pabllo suscita, sem se esquivar.
– Sou um menino gay – esclarece, em entrevista à Donna por e-mail. – Essas questões de gênero masculino e feminino se entrelaçam cada vez mais e acho legal a gente mostrar que está tudo bem com isso.
Não é raro também que Pabllo responda perguntas comuns a quem não está familiarizado com as drag queens, artistas identificados com o gênero masculino que se vestem com roupas femininas para shows. Uma das mais ouvidas é se Pabllo é trans. A resposta? Ao contrário de nomes como a modelo Lea T, a cantora nem pensa em cirurgia de redesignação sexual. Está feliz com quem é e com as múltiplas personalidades que pode encarnar – da Pabllo dos palcos, montada e performática, a (ou o!) Pabllo de cabelos curtinhos, short jeans e camiseta branca, com zero maquiagem e unhas compridas, que faz questão de não esconder dos fãs em seu Instagram.
É justamente pela atitude transgressora e afirmativa que Pabllo ganhou o status de símbolo de resistência, sobretudo para a comunidade LGBT. Quem afirma é nada menos do que o jornal britânico The Guardian, um dos vários veículos internacionais em que a cantora virou notícia depois da celebrada parceria com o trio de produtores de música eletrônica Major Lazer. Sua Cara, música em que Pabllo divide os vocais com Anitta, detém recordes como o clipe que alcançou mais rapidamente a marca de 1 milhão de likes no YouTube – e, seis meses depois, já supera 330 milhões de visualizações.
Com suas faixas próprias, o sucesso não fica atrás: K.O., por exemplo, já passou das 275 milhões de execuções no YouTube e levou o prêmio de Melhor Música do Ano no programa Domingão do Faustão. Se hoje Pabllo comemora a ascensão com notoriedade mundial – é, também, a drag queen mais seguida do Instagram, à frente de RuPaul, criador do reality RuPaul’s Drag Race –, a infância de Phabullo não foi assim tão fácil. A mãe, Verônica, foi deixada pelo pai de Pabllo e da irmã gêmea, Phamella, quando ainda estava grávida.
Nos tempos de escola, não foram poucas as vezes em que sofreu bullying por conta de sua voz fininha. Teve até um dia em que, na fila do refeitório, um garoto virou um prato de sopa quente no rosto de Pabllo. Nada que abalasse sua confiança. Desde cedo, a cantora entendeu que sua personalidade afeminada, como costuma definir, tem caráter político – e virou inspiração para muitos outros jovens, gays ou não, que ainda não encontram espaço para se entender e se aceitar. E referências positivas são bem-vindas no país que mais assassina LGBTs no mundo, segundo dados da Rede TransBrasil e do Grupo Gay da Bahia, que soma mais de 144 mortes em 2016.
Do primeiro clipe, Open Bar, de 2015 – produção caseira gravada na piscina da casa de um amigo, com custo de R$ 600 – às participações como estrela musical do programa Amor & Sexo, de Fernanda Lima, foi um salto. Nos intervalos das gravações, Pabllo entrou em estúdio para produzir Vai Passar Mal, o disco que marcaria sua estreia com composições autorais em janeiro do ano passado.
E com um nome de peso: o produtor musical e DJ Diplo, que já trabalhou com Madonna e Britney Spears, assina a produção da faixa Então Vai, próxima música de trabalho de Pabllo. A saber, Diplo é um dos três nomes do Major Lazer, donos da música Lean On, a versão original da paródia Open Bar. Tudo está interligado.
Já com disco novo lançado, Pabllo foi a sensação do Carnaval passado com Todo Dia, música gravada em parceria com o rapper Rico Dalasam. E foi justamente nesta época que conheceu Anitta, que viraria uma espécie de fada madrinha para ajudar a impulsionar a carreira da drag queen. Para além de Sua Cara – parceria de sucesso das cantoras –, Pabllo colecionou grandes momentos em 2017. Fora do line-up oficial do Rock in Rio, foi convidada para o espaço de um dos patrocinadores e atraiu mais público do que vários shows do palco principal. De surpresa, ainda roubou a cena com uma participação no show de Fergie no mesmo festival. Mais: foi onipresente nos principais programas da TV, do Fantástico ao Encontro com Fátima Bernardes. Até na novela das nove deu as caras: surgiu como ela mesma em uma participação na trama A Força do Querer, de 2017.
E o que vem por aí? Pabllo faz mistério, mas adianta: podemos esperar mais um álbum, com direito a parcerias internacionais. A expectativa de uma novidade só aumenta para o show que a cantora apresenta no palco principal do Planeta Atlântida, no dia 3 de fevereiro. A julgar pelos fãs que arrebatou no último ano, 2018 promete ser “babado” para Pabllo. Enquanto as boas novas não vêm, ela bateu um papo com Donna sobre moda, a relação com os fãs e, claro, o símbolo de representatividade que se tornou.
Com vocês, Pabllo Vittar!
Neste mês, faz um ano desde o lançamento de seu primeiro disco e da explosão de sua música no último Carnaval. Como foram para você esses 12 últimos meses de ascensão?
Esse ano foi realmente um marco na minha vida. Atingi tantos sonhos que é difícil pensar em apenas um... Mas posso falar que o Rock in Rio foi uma coisa que me atingiu profundamente. Sempre tive o sonho de tocar lá e foi incrível demais. Resumidamente, foi um ano cheio de sonho realizados e pessoas incríveis do meu lado a quem eu tenho de agradecer. Que 2018 seja tão lindo quanto foi 2017!
O que mudou na sua rotina? O que fazia em janeiro do ano passado e não faz mais?
Antes, eu estava mais em dia com minhas séries, menina! (risos) Mas, em janeiro, com o lançamento do álbum Vai Passar Mal e toda a preparação para os singles, estava uma loucura também. Intensificou mais com o decorrer do ano, mas continua sendo tão bom quanto antes.
Você lembra da primeira vez em que se montou? Qual foi a sensação quando se olhou no espelho?
A primeira vez que me montei foi no Halloween, ia sair com umas amigas, fazer uma girl’s night, sabe? Íamos pra uma festa à fantasia e me enrolei toda em gases cirúrgicas. Esse dia foi incrível! Me diverti como nunca tinha acontecido antes, sabe? Consegui me sentir livre e muito feliz. Foi mara!
Em entrevista à Trip, você disse que são as “bees afeminadas que estão na posição de frente e dão a cara a tapa”. Como é, para você, estar nessa posição de enfrentamento?
Para mim, é uma honra poder representar isso hoje! Eu fico vendo o trabalho de tantas amigas minhas e vem um quentinho no coração de ver como a gente está fazendo crescer ainda mais essa causa que precisa estar presente. Como sempre digo, valorizem as drags da sua região, gente. Bora fazer esse trabalho, sempre quebrar mais e mais barreiras.
O que representa para você ser uma drag queen de sucesso em um país ainda de tantos preconceitos?
Todo dia é uma luta diferente, né? É muito bom ter visibilidade em um lugar onde existe muita homofobia e agressão a drags e transexuais, poder falar do que vivi e estar presente na casa das pessoas para que a gente continue dialogando. Mas tento pensar o oposto da pergunta: o que representa para mim ser uma drag em um país com tanta gente que apoia e luta pela causa? Ó que coisa linda.
Quando você começou a cantar, imaginou que se tornaria esse símbolo de luta e resistência, como apontou o The Guardian?
Imagina, não pensava isso. Não pensava nem que teria a chance de cantar para tantas pessoas. Óbvio que a gente sonha, mas acreditar que será uma realidade é diferente. Eu fico extremamente lisonjeada quando ouço coisas assim e de saber que cheguei a esse lugar.
Você traz à tona para a família brasileira o debate sobre a questão de gênero. Você acredita nas denominações homem/mulher? Aliás, com qual gênero você se identifica?
Então, eu sou um menino gay. Sobre as denominações homem/mulher, acredito porque existem, mas não apenas elas. A questão é que não é tão separado, entende?
A pessoa pode ser aquilo com que se identifica melhor! Seja mulher e querer ser homem, ou vice-versa, ser tudo ou nada. Essas questões de gênero masculino/feminino se entrelaçam cada vez mais, e acho legal a gente mostrar que está tudo bem com isso! Uma hora, a gente terá como prioridade a felicidade das pessoas e não colocar todas as definições em caixinhas separadas...
Nunca se falou tanto em aceitação e diversidade, mas o preconceito ainda resiste em muitos aspectos. Que mudanças são mais urgentes para 2018?
Respeito, acima de tudo. Quando digo respeito, estou falando de tudo e todos, sabe, mana? Respeito com gente que você não conhece, com coisas que você não compreende, com o estilo do outro, entre outros.
Ainda há certa resistência com a mulher que se diz livre para fazer o que quiser no Brasil. Esse tipo de crítica apareceu contra sua música que diz “Não espero o Carnaval para ser vadia” e, mais recentemente, com o clipe de Vai Malandra, da Anitta. Você acha o brasileiro conservador?
Acho ruim a gente colocar “o brasileiro” como conservador porque acaba generalizando, né? E nem todo mundo é igual. Mas acho que esse conceito é uma coisa ainda nova para muitas pessoas, um assunto que, de um tempo pra cá, vem ganhando mais força e as pessoas começaram a se adaptar melhor com isso. O importante é que a gente deixe o respeito na frente de tudo e aceite que as mulheres são livres para serem o que quiserem.
Você sempre faz questão de apoiar outros VittarLovers que estão começando a se montar. Como é para você ver tanta gente se inspirando na sua trajetória para ser e se tornar quem tem vontade?
É um sonho muito grande! Eu lembro da minha infância e de toda a luta que nós sofremos para chegar onde a gente chegou... Fico torcendo para que o caminho dessas pessoas seja mais leve e tão brilhante quanto, sabe?
Quem são os outros artistas da sua geração que você faz questão de indicar?
Uma pessoa por quem tenho admiração e foi uma superinspiração para mim foi o Liniker. Acho incrível as músicas dele, e como ele se posiciona diante de todo esse lance de gêneros.
Recentemente, foi ao ar no Altas Horas uma performance em que você cantava I Have Nothing, de Whitney Houston, superelogiada nas redes. Funcionou, de certa forma, como (mais uma) prova de seu talento para quem a critica? Aliás, como você lida com as críticas ao seu trabalho?
As pessoas têm livre-arbítrio e podem pensar o que quiserem e emitir opinião. Vivemos em um país onde as pessoas estão livres para dar sua opinião, mas a resposta para tudo isso é que estou fazendo bem o meu trabalho – e isso vem dos meus fãs. No entanto, essa performance da Whitney só provou cada vez mais que estou no caminho certo. Sempre amei essa música da Whitney e aquela performance foi algo bem natural para mim, porque faz parte da minha vida e do que gosto de fazer.
Você também se tornou referência de estilo. Está sempre usando marcas novas e grifes consagradas, como À La Garçonne. Como é a sua relação com a moda?
Sempre fui muito ligada e queria estar antenada com tudo que envolvia moda. Naquela época, não tinha internet, Instagram, nada disso... Então, ficava abrindo revista e vendo TV para ver o que ia ser trend! O meu estilo é algo mais street, então o importante, pra mim, é minhas roupas serem confortáveis.
O guarda-roupa da Pabllo do palco é o mesmo do guarda-roupa da Pabllo “pessoa civil”?
Tem muita coisa igual, maaaas a Pabllo fora do palco AMA um shortinho jeans, uma t-shirt bem babadeira e uma choker (risos). Eu fora do palco foco muito mais no conforto, continuo querendo looks babadeiros e trends, mas mais básicos.
E quanto tempo você demora para se arrumar? Ainda consegue fazer sua própria make?
Até montar a make toda e tudo mais, demora umas três horas. É tempo, mas menina... Fica babado, e eu sempre amo o resultado (risos). E consigo fazer minha própria make, sim, mas é claro que também trabalho com profissionais maras que me ajudam em dia de correria.
E Pabllo criança, como era? Como foi sua infância?
Eu já pensava em viver cantando porque sempre gostei de fazer performances de artistas famosas, até me chamava de Pabllo Knowles (referência a Beyoncé Knowles) antes, bem Queen B, sim (risos). Mas não pensava em profissão e tudo mais, sabe? E minha infância foi boa, sempre tive minhas irmãs e minha mãe do meu lado, me apoiando nas decisões que tomava.
Você já contou também que sua voz fina lhe rendeu sofrimento na época do colégio. O que você diz para seus fãs que passam por esse tipo de situação hoje?
Acredito que eles têm que amar quem eles são. Eu mesmo sei que é muito difícil a aceitação e todo esse processo, mas, acreditem, uma hora, você e as pessoas ao seu redor terão muito orgulho de você por inteiro. Da sua voz, do seu jeito, da sua personalidade.
E em relação aos seus novos planos, o que pode adiantar?
Já estou me preparando porque, depois do Carnaval, vou gravar meu segundo álbum em Los Angeles e vai vir bastante videoclipe lindo e parcerias internacionais com pessoas que admiro muito. Claro que temos mais coisas, mas ainda não posso contar muito...
E qual a sua parceria dos sonhos?
Nossa, são muitas pessoas com quem gostaria de colaborar... Mas acho que, de primeira assim, me vem Riri rainha (a cantora Rihanna)! Imagina que dueto babadeiro?
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